Niquelândia

Luto na arena: Reginaldo Santos, o locutor das multidões, é sepultado após morte por afogamento no Lago Serra da Mesa

Festas populares de associações da zona rural da cidade do Norte do Estado perderam, na tarde da quarta-feira (10), sua maior referência em animação: Salgadinho, como era conhecido, não usava colete salva-vidas ao cair no lago após perder o controle de canoa motorizada em manobra arriscada

Familiares e amigos do locutor de rodeios Reginaldo Correia dos Santos – de apenas 39 anos, popularmente conhecido em Niquelândia como Salgadinho – deram o último adeus no final da tarde desta quinta-feira (11) ao vozeirão grave, inconfundível e marcante, silenciado tragicamente por afogamento nas águas do Lago Serra da Mesa na tarde da quarta-feira (10).

Passava das 18 horas quando o corpo do locutor desceu à sepultura no Cemitério Municipal São José, na Vila Mutirão, sob aplausos e num clima de enorme comoção, pela repentina perca de um talento nato que elevava o nome da cidade onde nasceu por todos os lugares onde passava.

 

Não apenas as pessoas mais próximas de Salgadinho, mas os incontáveis fãs – que ele conquistou na consagrada carreira em que animava cavalgadas e festas de associações em praticamente os povoados da extensa zona rural do município – ficaram consternados logo que a notícia se espalhou nas redes sociais e grupos de WhatsApp da cidade do Norte do Estado.

O locutor também era figura bastante requisitada para animar eventos e rodeios em outras localidades como Corumbá de Goiás e Colinas do Sul, dentre várias cidades.

No início da tarde desta quinta, o Portal Excelência Notícias esteve no velório de Reginaldo Santos na casa de familiares em frente ao Parque Agropecuário de Niquelândia, espaço onde o locutor brilhou por várias vezes.

Apesar da dor pelo ocorrido, o irmão de Reginaldo – o vendedor Marco Antonio Correia dos Santos, de 41 anos – foi solícito e aceitou relatar a tragédia em rápida entrevista. Ele também cedeu as últimas fotos do locutor em vida; e autorizou que fossem feitas imagens do local do velório.

ANTES DA DESPEDIDA, MUITA TRISTEZA – Familiares e amigos do locutor Reginaldo Santos estavam inconsoláveis durante o velório, realizado em casa de parentes, em frente à Pecuária de Niquelândia: com autorização do irmão Marco Antonio,momento de dor foi registrado pelo Portal Excelência Notícias [Foto: Euclides Oliveira]
COMO FOI O ACIDENTE – Segundo Marco Antonio, o locutor e demais familiares – um grupo de mais de 10 pessoas, aproveitavam o mês de julho e se reuniram para descansar no Condomínio Encanto das Águas, distante 75 quilômetros de área central de Niquelândia com acesso pela região do Povoado Indaianópolis.

No outro extremo da propriedade onde curtiam momentos de lazer – separada por uma distância de 50 metros de navegação  pelo Lago Serra da Mesa – Marco Antonio contou que existia um “flutuante” – tipo de embarcação comum na região, presa por cabos às margens do lago – onde são servidas bebidas e petiscos.

Reginaldo Santos, contou o irmão, fazia o transbordo de parentes conduzindo uma canoa com motor de popa.  Depois do almoço em família, por volta das 14h30, o locutor levou duas filhas dele e duas irmãs (Maria Aparecida e Lucimeire) do condomínio para o flutuante, como costumeiramente fazia.

Na volta à propriedade, detalhou Marco Antonio, o locutor fez uma manobra brusca com a canoa no Serra da Mesa. Reginaldo – que não sabia nadar e não usava colete-salva vidas – desequilibrou-se e caiu nas águas do Lago.

 

Desgovernada, a pequena embarcação bateu em seguida num barranco. Reginaldo, conforme informou seu irmão, chegou a se debater com os braços para tentar-se salvar e um de seus sobrinhos logo pulou na água, para ajudar o tio. Mas Reginaldo logo afundou a uma profundidade de cerca de 5 metros e acabou se afogando, sem qualquer possibilidade de socorro.

O Corpo de Bombeiros de Niquelândia foi rapidamente acionado. Mas no período de 50 minutos entre o afogamento (14h30) e a saída da viatura do quartel no Jardim Aurora às 15h20 – com todos os equipamentos náuticos necessários às buscas em águas profundas – nova ligação ao 193 relatava que familiares e populares tinham conseguido localizar o corpo de Reginaldo.

PAI COBRAVA USO DO COLETE-SALVA VIDAS – “Como ele (Reginaldo) não sabia nadar, meu pai (Osmar Mendes dos Santos, que não desgrudou um minuto sequer do caixão do filho, no velório) cobrava demais que ele usasse o colete, quando ele saía para pescar. Mas ele levou e não usou o colete, que estava dentro da canoa. Minha irmã mais velha também falou isso pra ele, que estava ‘acostumado’ (a fazer a travessia); e acabou não dando muita importância ao pedido dela porque havia 15 anos que ele frequentava a região do Lago, trabalhando. Mas ele gostava de dar uns ‘cavalos-de-pau’ com a canoa e dessa vez – como a manobra foi muito fechada, como se fosse um ‘rabo-de-arraia’ – ele caiu no Lago e veio a óbito. Meu irmão morreu ‘brincando’, como sempre fazia”, detalhou Marco Antonio.

Por um desencontro de informações entre os órgãos de Segurança Pública sobre a real localização da área onde se deu o afogamento, segundo apurou o Excelência Notícias, a equipe do Instituto Médico Legal (IML) de Uruaçu somente chegou ao local por volta das 22 horas, passadas longas oito horas após a morte.

Após os procedimentos de praxe no IML, para onde o corpo foi levado, o velório de Reginaldo Santos em Niquelândia teve início somente por volta das 6 horas da manhã desta quinta-feira. O locutor deixou quatro filhos, fruto dos três relacionamentos afetivos que teve: Paulo Henrique, de 20 anos;  Guybert, de 19 anos; e duas meninas  – Maria Eduarda, de 8 anos; e a pequena Ana Clara, de apenas 4 anos.

Em outro registro em família de sua imagem ainda sorridente, feita antes da tragédia, Reginaldo Santos aparece finalizando o preparo de uma carne de churrasco, com queijo derretido: locutor era muito querido por familiares, que o consideravam bastante divertido [Foto: Arquivo de Família]
O APELIDO E O INÍCIO DA CARREIRA – Recordando os primeiros passos de seu único irmão homem, mais novo – que começou a fazer narrações de montarias quando tinha apenas 17 anos – Marco Antonio disse que Reginaldo Santos ganhou o apelido de “Salgadinho” ainda adolescente, época em que trabalhou na extinta Sorveteria Branca de Neve (que pertencia ao hoje advogado José Pires Martins) na Praça Silva Júnior, ao lado da Rádio Mantiqueira.

“Sempre que nós chegávamos lá (na sorveteria) o meu irmão estava na porta, narrando e chamando a atenção de todos. Com o tempo, ele começou a participar das festas de rodeio e não parou mais, trabalhando em vários em lugares, inclusive fora da nossa região, como em Anápolis e Águas Lindas. Na época do Muquém, ele sempre se destacou, fazendo a animação da ‘Barraca Niquelândia’ por muitos anos.  Para nós, da família, foi uma perca muito grande. Meu pai, minha mãe (Maria Meire Correia dos Santos) e todos os nossos parentes, estamos muito chocados com isso que aconteceu com ele”, comentou o irmão do locutor falecido.

Para Sebastião José Pereira – de 59 anos, que atua como vigilante em Niquelândia e era tio de Salgadinho – os moradores da cidade e da região verdadeiramente reconheciam o talento; a aptidão nata; e a história do locutor na animação de festas populares, com seu dom de alegrar o público diante do esforço dos peões em segurar um touro bravo por 8 segundos, nas arenas onde Reginaldo Santos fazia o povo tremer e se emocionar.

ETERNIZADO NOS CORAÇÕES – “Isso (a narração) era o que ele mais gostava de fazer pois era uma pessoa muito divertida e animada. Para nós, ele deixa um imenso legado de amizade já que tinha enorme carinho e respeito por nossa família. A prova está aí, nesse grande comparecimento de pessoas ao velório. Mais cedo, fizeram para ele uma homenagem na rua, mais do que merecida, o que me deixou muito emocionado. O Salgadinho, com certeza, vai ficar eternizado no coração de todos os niquelandenses”, comentou o tio, igualmente gentil com o Excelência Notícias, apesar da partida prematura do sobrinho.

VOZEIRÃO EM SILÊNCIO ETERNO – Reginaldo Santos morreu prematuramente com apenas 39 anos: locutor de rodeios perdeu o controle de canoa motorizada e morreu afogado no Lago Serra da Mesa [Foto: Arquivo de Família]

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