Niquelândia

CELINO CORREA – “Valdeto foi um prefeito sem diálogo, sem gratidão e sem companheirismo”.

Ex-vice-prefeito de Niquelândia, cassado juntamente com o ex-prefeito Valdeto Ferreira na segunda-feira (23), abre o jogo em longa entrevista exclusiva com tom de desabafo ao Portal Excelência Notícias, nesta quarta-feira (25)

O ex-vice-prefeito de Niquelândia, Celino Correa (SD), concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Excelência Notícias na visita que fez à redação do mais novo veículo de comunicação da cidade – o único na área da imprensa escrita no município – na manhã desta quarta-feira (25). Na conversa – de quase uma hora, a primeira com a imprensa local após a cassação do mandato dele e do agora ex-prefeito Valdeto Ferreira Rodrigues (PSB) ser efetivada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na tarde da segunda-feira (23) – Celino fez um longo desabafo dos percalços políticos e administrativos que teria enfrentado nos 14 meses em que ocupou a segunda mais importante cadeira do Poder Executivo do município, tendo Valdeto à frente do município.

De forma muito ponderada e sem alterar o tom de voz em nenhum momento, Celino Correa disse ao Excelência Notícias que a proposta do plano de governo de Valdeto era, antes da eleição de 2016, a que melhor se aproximava de seus projetos políticos para Niquelândia, quando ainda tentava viabilizar a própria candidatura a prefeito.

De acordo com ele, o agora ex-prefeito lhe deu totais garantias que o problema jurídico de 22 anos atrás (o desvio de verbas da Educação, em 1996) seria contornado pelos advogados da campanha ao longo do processo.

A aprovação do pedido de registro da chapa, no Poder Judiciário de Niquelândia, reforçou essa confiança de Celino de que ambos chegariam ao poder sem maiores problemas com a Justiça Eleitoral. Porém, de acordo com Celino, suas preocupações começaram a aparecer com a impugnação do registro da chapa que fora conseguida pela coligação da ex-candidata a prefeita Gracilene Batista (PR) em segunda instância no TRE em Goiânia; e a ida do caso para a derradeira análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em Brasília – tendo a posse dos dois eleitos sendo garantida por liminar deferida pelo ministro Gilmar Mendes somente em 28 de dezembro de 2016.

Se já não bastassem as questões de ordem jurídica, Celino Correa relatou ao Excelência Notícias que o relacionamento político dele com o então prefeito Valdeto, nos bastidores do prédio da prefeitura, sofreu seguidos abalos durante o período de ambos comandando a cidade.

Porém, para não causar maiores problemas a Valdeto – e, de certa forma, não ser tachado de conspirador para fracasso administrativo da gestão encerrada prematuramente essa semana – nunca expôs publicamente o que relatou ao Excelência Notícias para não desestabilizar ainda mais a gestão.  Sofri muito nesses tempos para cá e, hoje, tenho a plena convicção do que o Luiz Teixeira passou quando apoiou o Valdeto para ser prefeito em 1993, na eleição de 1992. E ele (Valdeto) tomou outra direção naquele governo, da mesma forma que foi comigo agora, de se mostrar um prefeito em que não há diálogo, que não há gratidão; e que não tem companheirismo”, afirmou Celino Correa, num dos principais trechos de sua  fala. Confira a seguir, a integra da entrevista com o ex-vice prefeito de Niquelândia:

Portal Excelência Notícias – Naquele período, ainda na pré-campanha de 2016, o senhor pleiteou uma candidatura a prefeito, que não foi viabilizada politicamente. Como é que se deu o entendimento para o senhor compusesse a chapa com o então pré-candidato Valdeto Ferreira?

Celino Correa, ex-vice-prefeito de Niquelândia (Foto: Cláudia Alves)

Celino Correa  – Euclides, estou feliz porque, quando iniciei minha pré-candidatura a prefeito de Niquelândia, foi exatamente numa entrevista para o Jornal Diário do Norte, conduzida por você. Você foi o primeiro repórter de Niquelândia para quem concedi entrevista e agora, da mesma forma com você, falo pela primeira vez após a cassação do mandato, meu e do Valdeto, para o seu Portal Excelência Notícias. À época, carreguei para a chapa um total de 20 candidatos a vereador; quatro partidos políticos; e também dei respaldo na questão financeira para que eu e Valdeto tivéssemos condições de vencer as eleições, sendo um dos maiores ‘padrinhos’ da campanha por esse aspecto. Niquelândia, naquele momento, tinha vários pré-candidatos a prefeito e eu não consegui reunir condições políticas para vencer aquela eleição. E eu compus essa chapa que terminou, posteriormente, com o desfecho dessa cassação.

Excelência Notícias –  Esse imbróglio jurídico do primeiro mandato de Valdeto, referente a não-prestação de contas de recursos do Ministério da Educação que a prefeitura recebeu em 1996, não lhe trouxe preocupação em aceitar a vaga de vice-prefeito, na ocasião?

Celino – Na verdade, na época ele (Valdeto) nos assegurava que estava apto (a disputar o cargo de prefeito) porque o processo na Justiça Eleitoral já teria sido concluído; e que ele (Valdeto) já havia encerrado o prazo, que seria de três anos e meio, da (sentença de) inelegibilidade que ele recebeu. Eu mesmo falei com vários advogados, especialistas em Direito Eleitoral, e a maior parte me disse que haviam vários entendimentos jurídicos para o caso, dizendo que ele (Valdeto) poderia e outros dizendo que ele não poderia disputar a eleição. Naquela época, nós (o grupo politico de Celino) acreditávamos que se o (candidato a) prefeito (Valdeto), não pudesse realmente disputar, que nós (do Solidariedade) poderíamos assumir a ponta da campanha, o substituindo normalmente se o pedido do registro fosse indeferido aqui em Niquelândia na primeira instância. Quando essa decisão favorável saiu, nós tivemos um grau maior de confiança porque foi a própria pessoa do Valdeto que sempre me garantiu que estava juridicamente apto, justamente porque ele tinha todo conhecimento do processo que tramitou contra ele; e que acompanhou por vários anos, através de seus advogados Até que houve o indeferimento (do pedido do registro) em Goiânia e o fato de assumir o mandato, 90 dias depois por força daquela liminar do TSE, apenas três dias antes da posse

Excelência Notícias – Durante a campanha eleitoral propriamente dita, o senhor e o então candidato Valdeto tinham boa convivência no dia a dia das visitas e conversas com eleitores?

Celino Correa detalhou as dificuldades que enfrentou na gestão com ex-prefeito Valdeto Ferreira (Foto: Cláudia Alves)

Celino  No processo eleitoral, eu e Valdeto tivemos um relacionamento político muito aberto, de amizade mesmo. Naquele momento, os planos e projetos políticos dele se identificavam com os meus ideais, de uma reforma no modo de gerir a cidade, que era o que o povo de Niquelândia queria e precisava: um gestor. A cidade teve quatro candidaturas e os eleitores confiaram no nosso projeto, que também era o meu projeto, iniciado ainda quando eu era pré-candidato a prefeito. E, por isso, fomos a chapa vencedora, com mais de 4.000 votos de diferença em relação à segunda colocada (Gracilene).

Excelência Notícias E, de certa forma, o senhor e o então prefeito Valdeto Ferreira tomaram posse com essa responsabilidade de terem alcançado uma votação muito maciça…

Celino Sim. Porém, depois da posse, começamos a ter certas dificuldades. Mas, nos primeiros 90/120 dias de governo, eu sempre busquei um entendimento com o Valdeto porque fui uma pessoa que, nesse mandato, fiz o máximo para contribuir com a gestão. Como vice-prefeito, articulei a destinação de várias emendas parlamentares para Niquelândia; e não fiz imposição alguma, ou mesmo pressionei o prefeito, de uma forma desleal. Via de regra, a viabilização de um mandato é conseguida/articulada nos primeiros três meses de qualquer administração pois são essas ações iniciais que indicam de que forma o gestor vai chegar até o final (do mandato). Quando fomos em Goiânia na presença do então governador Marconi Perillo (PSDB), o Marconi disse para o Valdeto que a Prefeitura de Niquelândia precisava tomar todas as principais decisões no início do mandato, mesmo que fossem amargas, porque a cidade já estava passando por um momento difícil. O Marconi ainda nos disse que isso não seria fácil, mas que a nossa administração poderia sim se viabilizar. Mas, com apenas três meses de governo, eu mesmo já tinha percebido que essa gestão já estava completamente inviabilizada. Conversei muito com o Valdeto na ocasião e pedi que ele cortasse todos os contratos de serviços terceirizados; que ele enxugasse a folha (de pagamento). Eu, mesmo sendo vice-prefeito, tive apenas seis pessoas da minha confiança nomeados com cargos na prefeitura com oito meses de mandato, incluindo meu irmão (Jaime Correa) que assumiu a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Pedi para o Valdeto que determinasse a medição do percurso das linhas do transporte escolar, que hoje é um gargalo no orçamento de Niquelândia. Ele (Valdeto) até tentou, mas ele não fez o eu que eu pedi, aconselhei. E em 90 dias de governo, a prefeitura já tinha mais de 200 comissionados; e ele (Valdeto) já tinha tomado todas as suas medidas. Foi ai que eu percebi que nós não teríamos tanto sucesso na gestão, como pensei na campanha. Já no final do mandato, ele (Valdeto) até cortou a terceirização na coleta do lixo, que custava 440 mil por mês. Era um valor alto para a municipalidade, diante da queda na arrendação. Se nós (a prefeitura) com três meses, reuníssemos esse valor, era possível comprar dois caminhões-coletores novos, para fazer esse trabalho. E a gestão do Valdeto se mostrou mais sem planejamento do que uma gestão planejada.

Excelência Notícias O senhor arriscaria afirmar que o agora ex-prefeito Valdeto comandou o mandato de forma centralizadora para gerir a cidade, sem ouvir a opinião dos companheiros de campanha e se perdendo, de certa forma, nas metas propostas durante a eleição de 2016? Valdeto, efetivamente, não deu o devido valor às palavras do ex-prefeito Luiz Teixeira sobre a crise financeira que o município já enfrentava – com salários do funcionalismo que também já estavam atrasados – antes mesmo de vocês vencerem o pleito?

“No começo, ele tinha um projeto para a cidade. Depois, no meu entendimento, surgiram outras vertentes”, afirmou ele, sobre a forma com que Valdeto Ferreira conduzia a prefeitura (Foto: Claudia Alves)

Celino Fizemos uma comissão de transição de governo, da administração anterior para a nossa. Ele (Valdeto) após esses 90 dias iniciais que mencionei, teve de fato ciência que as dificuldades eram grandes. Mas um grande erro do prefeito foi o de não ouvir os companheiros; e o próprio vice-prefeito. Ele (Valdeto) não ouviu ninguém. Fez uma gestão centralizadora, acreditando que ele daria conta de resolver tudo sozinho. Porém, num município do tamanho de Niquelândia, com inúmeras dificuldades nas finanças, ninguém resolve tudo sozinho. Mas uma das melhores coisas que ele (Valdeto) fez foi o parcelamento com a dívida do município do INSS, em que a prefeitura precisava dar uma entrada de pouco mais de R$ 6 milhões – algo em torno de 2,4% do total do montante da dívida – divididos em 6 parcelas. Ele (Valdeto), salvo engano, conseguiu pagar quase todas as parcelas para liberar as certidões negativas do município e, dessa forma, a cidade começaria a ‘destravar’ e andar para a frente, tendo condições de receber emendas dos governos federal e estadual. Isso foi bom porque o próximo gestor terá  condições de concluir essa negociação com o INSS e novamente obter as certidões e conseguir recursos para o município.

Excelência Notícias – Mas houve, de fato, uma ruptura contundente no relacionamento pessoal do senhor com o então prefeito Valdeto Ferreira? Uma briga, por exemplo, que motivasse o seu afastamento da gestão?

Celino Como eu disse, ele (Valdeto) foi tocando as ações dele sem ouvir ninguém. E lá na frente, logo no mês de maio, a administração teve que dispensar todos os comissionados, o que gerou o primeiro grande desgaste no governo. Foi aí que ele (Valdeto) deixou de me convidar para despachar com ele, no gabinete. Fiquei 60 dias sem despachar com o prefeito. De maio de 2017 até agora, foram só frustrações. Depois ele mudou alguns secretários, trocou ‘figurinhas’, colocando nomes de uma pasta para outra sem falar comigo, que era o vice-prefeito. Ele não me comunicou nada que mexeria no primeiro escalão, nem me perguntou se eu achava bom ou ruim essas trocas. E essas mudanças inviabilizaram ainda mais a gestão.

Excelência Notícias – As inúmeras atribuições e o amplo poder de decisão e de autonomia que o então prefeito Valdeto Ferreira delegou ao assessor Rodrigo Brum, posteriormente alçado ao cargo de secretário municipal de Educação, tornaram o ambiente mais pesado nos bastidores do governo dos senhores?

“Depois da posse, começamos a ter certas dificuldades. Mas, nos primeiros 90/120 dias de governo, eu sempre busquei um entendimento com o Valdeto”, afirmou o ex-vice-prefeito Celino Correa (Foto: Claudia Alves)

Celino Não, eu não vejo dessa forma. O Rodrigo, quando estava na assessoria especial do prefeito, também falou por várias vezes ao Valdeto que certas coisas não eram possíveis de se fazer e que, se fossem feitas, inviabilizaria a administração. Entre o vice-prefeito, o Rodrigo e a gestão, o que me incomodou e gerou desgaste meu com o prefeito, foi o fato da assessoria de comunicação ter divulgado em algumas publicações no Facebook, no início do nosso mandato, que a prefeitura teria comprado R$ 1.200.000,00 em medicamentos para a Secretaria Municipal da Saúde. Só que isso foi apenas uma intenção de compra pois, na verdade, a municipalidade tinha pago somente cerca R$ 350.000,00 na aquisição de remédios. Mostraram inclusive, nas publicações, as prateleiras de remédios. E eu cobrei essa questão, da assessoria de Comunicação e do prefeito, porque nós (a administração) não estávamos sendo transparentes. Eu cobrava essa transparência da administração porque nós, em campanha, firmamos esse compromisso de sermos transparentes. No primeiro mandato do Valdeto, entre 1993 e 1996, ele foi transparente em praça pública. Na campanha de 2016, ele me falou isso em vários momentos. Por isso, houve desgaste meu com a assessoria de comunicação do prefeito, que foi desfavorável a mim nesse tempo inteiro de gestão.

Excelência Notícias – E as cobranças da população sobre o senhor, enquanto vice-prefeito, foram crescendo também?

Celino – Eu não conseguia resolver todas as demandas, mas atendi mais a população no meu gabinete que o próprio prefeito, sobretudo nos primeiros meses de governo. Pude visitar vários ministérios em Brasília, para fazer um levantamento de como estava a administração; e detectamos algumas irregularidades/pendências do mandato anterior (do ex-prefeito Luiz Teixeira) junto ao Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação/FNDE, que estavam travando a continuidade de algumas obras como o colégio na região do Morro Redondo; a creche do Jardim Atlântico; a quadra coberta no Colégio Joana Rodrigues de Freitas; e o colégio na Vila São Vicente, que já estava com 74% das obras concluídas. Fiz esse levantamento e apresentei à Secretaria Municipal de Planejamento. Conversei com vários deputados, sendo que o Lucas Vergílio foi o deputado federal que mandou mais emendas para Niquelândia. O deputado federal Célio Silveira – para quem fiz campanha aqui em Niquelândia em 2014 obtendo 265 votos para ele – conseguiu emenda de R$ 400 mil para a manutenção da nossa Saúde e reforma do Hospital Municipal, dentre outras ações para ajudar Niquelândia, que estava num momento difícil. Mas o então governador (Marconi) não confiava no Valdeto. O Marconi tinha um pé atrás com ele. No Muquém, ano passado, o Valdeto errou em vir buscar primeiro a (senadora) Lúcia Vânia (do mesmo partido, o PSB) e não quis receber o governador lá (no Muquém). Ele se envolveu mais com a Lúcia Vânia e esqueceu de dar atenção ao governador. Isso também representou certo desgaste do Valdeto com o Marconi. Essa falta de alinhamento direto do prefeito de Niquelândia com o governador foi um fato foi muito ruim para um município em dificuldade como o nosso.  Creio que, por isso, o governador deixou para ajudar Niquelândia mais à frente quando aparecesse um nome (na prefeitura) que abraçasse a candidatura (ao Senado) do agora ex governador.

Excelência Notícias – Essa conjuntura política desfavorável entre Marconi e Valdeto atrapalhou a liberação de R$ 3 milhões em recursos do Programa Goiás na Frente para a prefeitura?

“Em maio do ano passado, a administração teve que dispensar todos os comissionados, o que gerou o primeiro grande desgaste no governo. Fiquei 60 dias sem despachar com o prefeito, no gabinete”, detalhou Celino Correa (Foto: Claudia Alves)

Celino  – A cidade não perdeu essa verba. Na verdade, o município não apresentou projeto para a obtenção desse dinheiro. O prefeito (Valdeto) não deu conta de elaborar esses projetos. Em Colinas do Sul, só para você ter uma ideia, o Marconi já havia liberado a segunda parcela do recurso. E nós, em Niquelândia, sem nenhum projeto pronto. Por isso que eu insisto: administração sem projetos enfrenta entraves muito grandes. Esse recurso do Goiás na Frente, se nós (a prefeitura) tivéssemos tido um relacionamento mais amistoso e familiar com o Marconi, creio que Niquelândia teria recebido não apenas R$ 3 milhões, mas os mesmos R$ 5 milhões que o governador destinou para obras em Uruaçu. Prefeito do interior precisa ‘abraçar’ o governador, prefeitos precisam do governo estadual. E Niquelândia, muito mais ainda. Uma das sugestões que eu dei foi para que o Estado assumisse 100% dos nossos gastos com o transporte escolar e, ao que me parece, por essa falta de alinhamento do Valdeto com o governador, eles (o Governo do Estado) recuaram dessa possibilidade.

Excelência Notícias – O senhor não é mais vice-prefeito e Valdeto deixou de ser prefeito. Um ano e quatro meses depois de tudo o que aconteceu, sua convicção é de que Valdeto tinha apenas um projeto de poder?

Celino – Na campanha de 2016, ele tinha um projeto para a cidade. Trata-se de um entendimento meu e pode ser que eu esteja errado. Mas após a nossa posse sob liminar – sob orientação de seus advogados, creio eu, de que haveria de fato essa possibilidade dele ser afastado do cargo – vejo que foram desencadeadas outras vertentes na administração. Niquelândia passa por uma grande dificuldade política, financeira e moral. O maior município em área territorial do Estado, com 283 anos de história, precisa de um gestor que não seja apenas político, mas que tenha gratidão e possa administrar para todos, não apenas para pequenos grupos, reconhecendo que na cidade há inúmeras pessoas em dificuldade econômica, dentre elas o próprio funcionalismo público. Fui eleito vice-prefeito com a esperança de que eu e o Valdeto faríamos uma gestão participativa, mas saí agora do mandato com o sentimento de que, em Niquelândia, hoje existem pessoas em situação econômica ainda pior do que quando assumimos a prefeitura.

Excelência Notícias – Depois de tudo isso, o senhor se arrependeu de ter aceitado o convite para ser vice-prefeito de Valdeto em 2016?

Celino – Não tenho arrependimento de ter composto a chapa, mas das coisas que aconteceram posteriormente. Creio que se eu tivesse disputado a eleição de prefeito, mesmo que não estivesse sido eleito naquele pleito, meu entendimento é que hoje o meu nome seria imbatível em Niquelândia. Eu teria mostrado os meus projetos e provado que o meu perfil político era outro. A minha dificuldade de estabelecer diálogo com o Valdeto foi por causa disso, pois sou totalmente diferente dele, que não estabeleceu diálogo com os servidores e com os vereadores. Nós sofremos essa cassação no TSE em dezembro (com os 6 a 0) e depois com os 7 a 0 (com o voto-vista do ministro Gilmar Mendes) em fevereiro, mas ele (Valdeto) nunca me chamou para conversar. Foi difícil passar por tudo o que eu passei, em perceber que seu companheiro de chapa (Valdeto) está fazendo uma articulação totalmente contra você, nesses últimos seis meses. Eu sofri muito nesses tempos para cá e, hoje, tenho a plena convicção do que o Luiz Teixeira passou quando apoiou o Valdeto para ser prefeito em 1993, na eleição de 1992. Todos sabem, em Niquelândia, que o Luiz Teixeira ficou junto com o Valdeto por aproximadamente dois anos, salvo engano. E ele (Valdeto) tomou outra direção naquele governo, da mesma forma que foi comigo agora, de se mostrar um prefeito em que não há diálogo, em que não há gratidão; que não tem companheirismo... (nesse momento da entrevista, o ex-vice-prefeito quase vai às lágrimas).

Portal Excelência Notícias – O senhor se emocionou em falar assim…

Celino – Claro. Quando você tem que sair do seu gabinete de vice-prefeito, em definitivo,  de um mandato pelo qual você lutou, investiu, para conquistar…e sai da forma que eu sai…não é fácil. E, depois da conclusão dessa cassação, não recebi nenhuma ligação da parte dele (Valdeto) ou das pessoas mais próximas dele, sabe? Quem ocasionou tudo isso foi ele (Valdeto) porque eu nunca tive processo nenhum na Justiça, e não tenho culpa alguma em tudo o que aconteceu. E hoje me sinto a pessoa mais prejudicada e injustiçada desse mandato, que terminou dessa forma. Se fossem problemas decorrentes de questões eleitorais, de caixa dois na nossa campanha, era justa essa cassação.  Mas eu não achei justo ter que pagar caro por coisas de 20 anos atrás –  não apenas pela cassação de agora em si –  mas pela falta de comprometimento do próprio prefeito com o município e comigo, também.

Excelência Notícias – A imagem do senhor sai arranhada dessa fracassada união com Valdeto Ferreira? 

Celino – Sem dúvida que saí da prefeitura com a imagem arranhada. As pessoas sabem que vice-prefeito não tem o poder da caneta; e que só tem força quando vira prefeito. Mas outras pessoas entenderam que eu, por estar na chapa com ele (Valdeto), fui omisso em algumas coisas. Mas fiz o meu trabalho como vice-prefeito e cumpri meu papel, tenho a consciência tranquila disso.

Excelência Notícias – O senhor pretende ser candidato a prefeito na eleição suplementar? 

Celino – Sim, sou pré-candidato a prefeito e estou trabalhando meu nome, sem imposições. Tenho a absoluta certeza de que as pessoas vão entender o que aconteceu comigo nesse um ano e quatro meses. Ele (Valdeto) deve lançar um candidato dele, do time dele (Léo Ferreira, prefeito interino, é o nome mais provável). De agora em diante, vou formatar um time novo, com pessoas que tenham ideais e que queiram o bem da nossa cidade.

Celino Correa em dois momentos distintos da entrevista exclusiva ao Portal Excelência Notícias em que falou abertamente sobre os 16 meses de mandato juntamente com o agora ex-prefeito Valdeto Ferreira: revelações que nunca foram ditas publicamente, em longo desabafo (Foto: Cláudia Alves – Montagem: Portal Excelência Notícias)

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