Goiânia/Niquelândia

Padre Robson investiu dinheiro da Afipe em compra de fazenda para explorar minério em Niquelândia, aponta reportagem de ‘O Popular’

Maior parte do R$ 1 milhão usado pela Associação dos Filhos do Pai Eterno foi utilizado em nove estudos à busca de riquezas em solo niquelandense, entre 2015 e 2016: religioso de Trindade é alvo de investigação devastadora do MP

Reportagem publicada nesta quinta-feira (26) pelo jornal O Popular aponta que a Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe), de Trindade, investiu recursos angariados com a doação de fiéis em nove requerimentos para autorização de pesquisas à futura exploração de minérios de ouro e níquel em Niquelândia.

A entidade é proprietária de uma fazenda na zona rural da cidade; e buscava descobrir a existência ou não de jazidas em áreas que, somadas, perfazem 11,4 mil hectares de terras.

Os pedidos à busca de riquezas em solo niquelandense foram feitos pela Afipe entre dezembro de 2015 e agosto de 2016 junto à Agência Nacional de Mineração (ANM).

FÉ NA MINERAÇÃO – De acordo com fontes ouvidas pelo jornal da capital, a entidade presidida pelo padre Robson de Oliveira Pereira destinou cerca de R$ 1 milhão de forma direta ou indireta em 12 pedidos no total junto à ANM.

Além de Niquelândia – onde foi investido a maior parte do recurso, segundo fontes ouvidas pelo O Popular – a Afipe queria localizar metais preciosos em Campestre de Goiás; e em Trindade, cidade-sede da Afipe. Em Iporá, no Oeste do Estado, a associação queria extrair granito.

De todos esses requerimentos da Afipe, o único convertido em pedido de licenciamento na ANM foi em Campestre de Goiás, para exploração de argila.

No entanto, isso não significa dizer que a pesquisa foi fracassada nas demais áreas.

O jornal O Popular também apurou que padre Robson, por intermédio de funcionários da Afipe, tinha inteiro conhecimento das negociações.

O religioso também ordenava que nenhuma parceria fosse feita com empresas do ramo de mineração, afim de que o controle das etapas do requerimento de exploração de minérios junto à ANM ficasse somente com a Afipe.

Apesar da fazenda em Niquelândia estar registrada em nome da Afipe, os nove requerimentos junto à ANM foram protocolados por um advogado, que é funcionário da associação: Anderson Reiner Fernandes.

No entanto, para o Ministério Público de Goiás (MP-GO), os apontamentos caminham no sentido de que Anderson era um ‘laranja’ que acobertava as negociações que eram articuladas por padre Robson. O Popular informou que ele não foi localizado para comentar o caso.

Em janeiro de 2018, o nome da Afipe passou a figurar na titularidade dos requerimentos sobre a exploração mineral das áreas da fazenda em Niquelândia.

Pouco tempo depois – em fevereiro daquele mesmo ano – as pesquisas realizadas apontaram resultados negativos sobre a existência de jazidas com potencial lucrativo à Afipe.

A apuração de O Popular evidenciou – mediante informações com técnicos do setor – que tal fato não significa atestar que algo realmente muito valioso não tenha sido encontrado nesses trabalhos em Niquelândia.

Sempre de acordo com o jornal da capital, outras pessoas jurídicas buscam extrair ouro e níquel na região onde a Afipe possui a fazenda, na zona rural de Niquelândia.

Inclusive, o próprio site da ANM relata que, para essas áreas, existem protocolos mais recentes – de setembro do ano passado – requerendo autorização para pesquisa mineral em Niquelândia.

DEFESA – Advogados que fazem a defesa do padre Robson no extenso rol de supostas fraudes que ele teria cometido com o dinheiro da Afipe disseram, ao jornal O Popular, informaram que o estatuto da associação religiosa permitiria sua atuação no segmento de mineração.

Porém, a defesa disse que todas as “suposições” do Ministério Público de Goiás (MP-GO) serão devidamente respondidas após a leitura integral do processo em andamentos, ponto a ponto, com as informações que se fizerem necessárias.

UM ESCÂNDALO DE CIFRAS MILIONÁRIAS – Como se sabe, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) investiga um suposto desvio de R$ 120 milhões das contas da Afipe para investimentos sem qualquer relação com a devoção religiosa da cidade da região metropolitana de Goiânia, o que incluiria a compra da fazenda e eventual exploração de minérios em Niquelândia.

Em 10 anos, a Afipe teria movimentado chega de R$ 2 bilhões em suas contas bancárias. Porém, a obra do novo Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade – orçada inicialmente em R$ 100 milhões – foi iniciada em 2012 com previsão de ser concluída em 2022.

Mas em 2018 o término da obra foi adiado para 2026, prevendo investimento superior a R$ 1 bilhão. A Operação Vendilhões é um desdobramento das investigações da extorsão que padre Robson de Oliveira foi vítima em 2017.

Naquela ocasião, o religioso destinou cerca de R$ 2 milhões em recursos da Associação dos Filhos do Pai Eterno (Afipe) para que um hacker não divulgasse imagens íntimas; e conversas comprometedoras do religioso no aplicativo de mensagens WhatsApp.

Dada a repercussão da operação do MP na última semana, a Arquidiocese de Goiânia suspendeu no domingo (23) os direitos de ordem do padre Robson que, dentre outras, está impedido de celebrar missas.

Antes disso, ele já havia pedido afastamento de suas funções como presidente da Afipe.

[Com informações do jornal O Popular, sob adaptações do Portal Excelência Notícias/Niquelândia]

NO MUQUÉM, EM 2011 – Padre Robson durante entrevista ao jornalista Euclides Oliveira em Niquelândia, por ocasião do encontro das romarias do Divino Pai e Eterno e de Nossa Senhora da Abadia do Muquém [Foto: Arquivo Pessoal]

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