Niquelândia

EXCLUSIVO: Gravatinha retorna à Vila Mutirão após 10 meses recolhido em cadeia feminina do DF

Personagem folclórico e querido da população da cidade do Norte do Estado, Evoney Oliveira Gonçalves - o Gravatinha - foi considerado inimputável pela Justiça do DF no caso em que deu duas facadas em seu filho Eslindro Ferreira Gonçalves, no dia 1º de janeiro deste ano: "agora é vida nova", afirmou a esposa Ana Ferreira França

Após 10 meses de prisão em Brasília e distante de Niquelândia – período esse marcado por muito sofrimento de seus familiares – Evoney Oliveira Gonçalves, o popular Gravatinha – voltou definitivamente à cidade do Norte do Estado no início de outubro para começar vida nova, ao lado de sua mulher Ana Ferreira França.

Na casa humilde do casal – na Vila Mutirão, onde o Portal Excelência Notícias esteve na manhã da sexta-feira (18) – o drama do conflito familiar entre Gravatinha e seu filho Eslindro Ferreira Gonçalves, de 19 anos, está praticamente superado.

“Vai ficar tudo bem. Ele (Eslindro) me falou que quando sair (da Unidade Prisional de Niquelândia/UPN, no Bairro Santa Efigênia), vai me ajudar a cuidar do pai”, comemorou Ana.

RELEMBRE O CASO – Na noite de 1º de janeiro deste ano, Gravatinha (à época com 50 anos) e Eslindro tiveram um sério desentendimento numa chácara da região do Córrego do Ouro, no Setor Habitacional Fercal, em Brasília.

Gravatinha deixou Niquelândia para viver nesse local em outubro de 2018: levou Eslindro para lá com o objetivo de afastar jovem das más-companhias, na Vila Mutirão.

O rapaz – que tinha várias passagens pela Polícia Civil quando menor de idade – foi interpelado pelo pai na ocasião porque ouvia música em alto volume enquanto tomava cachaça, segundo a ocorrência registrada na ocasião pela Polícia Civil do DF.

Eslindro tinha um facão em seu poder e, diante da reprimenda do pai, saiu da casa para beber num local nas proximidades.

Quando ele voltou e deitou-se, colocando o facão junto à cama, Gravatinha apoderou-se da arma branca; e saiu da chácara.

A PRISÃO – Gravatinha ficou 10 meses preso na ala psiquiátrica da Penitenciária Feminina do Distrito Federal no Gama, onde teve de dividir a cela com outros 11 detentos, todos acusados de crimes graves (Foto: Reprodução Whats App]

Ana e Eslindro foram atrás de Gravatinha e o folclórico personagem niquelandense – portador de distúrbios mentais, que ficou conhecido por sua atuação caricata como “guarda de trânsito” – avançou contra o filho, golpeando-o por duas vezes de forma certeira perto da orelha e no ombro, de forma mais profunda.

Eslindro, na ocasião, foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros de Brasília ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS).

Gravatinha acabou recolhido numa cela da Ala Psiquiátrica da Penitenciária Feminina do Distrito Federal/PFDF (conhecido como “Colméia”, na região administrativa do Gama).

Na época, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) entendeu que Gravatinha deveria permanecer preso na Colméia pois era uma “pessoa perigosa, que representava risco à sociedade”.

O despacho dado na ocasião pelo juiz Evandro Moreira da Silva – do Tribunal do Júri e Vara dos Delitos de Trânsito de Sobradinho/DF – surpreendeu os 46 mil habitantes de Niquelândia, evidentemente.

O AMOR PELO FILHO – “Perdoei ele, estou louco para ver ele”, afirmou Gravatinha, do jeito que lhe é peculiar, sobre o que espera da convivência com Eslindro a partir de agora.

Ao lado de Ana, ele pretende visitar o jovem na cadeia de Niquelândia na semana que vem.

Sobre a prisão na Cadeia Feminina do DF, Gravatinha disse que teve de dividir a cela em Brasília com outros 11 presos, a maioria muito perigosos.

Pela dificuldade em alimentar-se corretamente – e também pelo estresse do cárcere – Gravatinha emagreceu mais de 20 quilos.

“Quando eu passava mal na cela, os demais presos achavam que eu estava fingindo. Mas só dois (dos detentos) me tratavam mal”, relembrou, afirmando também ter sido muito bem tratado pelos agentes prisionais da unidade.

O FIM DE UM DRAMA – Gravatinha havia levado Eslindro para Brasília na tentativa de afastá-lo de más-companhias na Vila Mutirão,  quando ocorreu o desentendimento entre os dois [Fotos: Gravatinha/Colaboração Juliano Campos – Eslindro/Reprodução WhatsApp – Montagem: Portal Excelência Notícias]
“A comida era boa, mas era pouca”, brincou Gravatinha. A perda brusca de peso, no entanto, ajudou no controle das taxas de glicemia (diabetes), problema que ele enfrentava quando estava obeso em Niquelândia. Mas o quadro de saúde agravou-se dentro da prisão, na ocasião.

Segundo sua enteada Poliana Ferreira França – filha ‘do coração’ de Gravatinha, que mora no DF e não mediu esforços para que o ‘pai’ ganhasse a liberdade – Gravatinha ficou internado no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) e no Hospital Regional de Samambaia (HRSAM) por cerca de um mês, entre os dias 29 de julho e 29 de agosto.

Seu aniversário – de 51 anos – foi “comemorado” no cárcere, no dia 19 de julho passado.

Apesar de todo o sofrimento, a esposa Ana Ferreira França contou ao Excelência Notícias que a internação do marido por quase 30 dias deu resultado:  houve acerto na prescrição da dosagem e dos medicamentos para o tratamento de epilepsia de Gravatinha, que reduziram praticamente a zero as crises provocadas pela doença.

Com a condição clínica mais estável, Gravatinha voltou à cela na Cadeia Feminina do DF.

Porém, a primeira alegria veio no dia 9 de setembro: nessa data, o TJDFT revogou sua internação provisória diante da melhora de seu quadro de saúde, atendendo pedido do Ministério Público (MPDF).

Na ocasião, Gravatinha foi abrigado na casa de Poliana.

O alívio definitivo veio uma semana depois: em 17 de outubro, a juíza Iracema Canabrava Rodrigues Botelho – também lotada no TJDFT em Sobradinho (DF) – expediu alvará de soltura para Gravatinha, entendendo que ele era inimputável tendo como base um laudo psiquiátrico forense.

Ou seja, restou constatado ao TJDFT que Gravatinha não deveria ser julgado e sentenciado pelo episódio em 1º de janeiro pois golpeou seu filho Eslindro com duas facadas em função por não ter condições de avaliar seus próprios atos.

O QUE DISSE A JUÍZA – “O laudo de exame psiquiátrico atestou a inimputabilidade do acusado (Gravatinha), apontando a possibilidade da continuidade do tratamento medicamentoso em domicílio. Do outro lado, ouvida nesta audiência a filha do acusado (Poliana) afirmou sua intenção em dispensar os cuidados necessários ao pai – com apoio de demais familiares – atendendo à recomendação médica. Vê-se, assim, que a medida cautelar de internação provisória não se mostra mais necessária, havendo outras medidas adequadas e suficientes a resguardar a ordem pública em razão (dos familiares) priorizarem o adequado tratamento médico do acusado, resguardando-se também eventual aumento em seu grau de periculosidade”, despachou a juíza.

Dessa forma, Gravatinha acabou liberado para o retorno à cidade do Norte do Estado com uma série de recomendações judiciais, tais como: ser submetido a acompanhamento psiquiátrico domiciliar pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura de Niquelândia – cujo tratamento foi indicado pelos peritos do TJDFT – mediante envio de relatórios a cada três meses ao Judiciário da capital federal, pela coordenação do Caps.

O TJDFT também estabeleceu que Gravatinha está proibido de ter acesso e permanecer em bares e estabelecimentos similares, onde há venda/consumo de bebidas alcóolicas; e o obriga a comparecer no Fórum de Sobradinho para todos os atos do processo, quando convocado pela Justiça, acompanhado de Poliana.

POPULAÇÃO SE SENSIBILIZOU COM A PRISÃO – Quando a notícia de sua prisão no começo do ano veio a público – 36 dias depois do desentendimento com Eslindro – um grupo de WhatsApp com o nome “Amigos do Gravatinha” foi criado por iniciativa do empresário do ramo automotivo Danilo Figueiredo, amigo da família, que mora em Brasília.

Com apoio do Portal Excelência Notícias em Niquelândia, surgiu uma campanha de doações para arrecadar dinheiro às necessidades básicas de Gravatinha na prisão. Cerca de R$ 1.000,00 foram entregues à comunidade na redação do portal e repassados a Danilo, por transferência bancária.

Ele, por seu turno, fez o montante chegar às mãos de Poliana, fato esse registrado em vídeo e divulgado nas redes sociais e grupos de WhatsApp em Niquelândia.

Ana Ferreira França relembrou com emoção – num depoimento de quase seis minutos – do período e das dificuldades enfrentadas nos 10 meses em que o marido ficou preso.

Ela citou, especialmente, os apoios do padre Jailton Jorcílio (da Igreja Matriz de São José); e da primeira-dama de Niquelândia, Juliana Alves Campos, no fornecimento de gás e de cestas básicas do Centro de Referência em Assistência Social (Cras), respectivamente; e o carinho da comunidade em geral.

Gravatinha voltou à sua casa na Rua 8, na Vila Mutirão, no último dia 2.

A SAUDADE E O RECOMEÇO – “Passei esse tempo todo aqui em casa sozinha, sem ele. O dinheiro do benefício dele (do INSS) vinha pouco de lá (de Brasília) para eu comprar o alimento (Poliana usava parte dos recursos para atender necessidades do pai na prisão, vale salientar). Os outros é que estavam me ajudando, com um pacote de arroz, com um pacote de feijão. Quero que Deus abençoe bastante as pessoas que nos ajudaram – como os açougueiros, que me davam um ‘pedacinho de osso’ ou uns ‘retalinhos de carne’ – durante o tempo em que ele (Gravatinha) ficou lá (na prisão); e o pessoal daqui da creche. A vida da gente é um jogo: num dia você está bem, noutro dia você está mal. Mas sempre mantive a esperança de que ele ia voltar para Niquelândia e, hoje, fico feliz por ele estar aqui comigo. O senhor (Euclides Oliveira) foi uma pessoa muito humilde e muito boa para nós aqui; e também para ele, que estava lá, quando vocês arrecadaram aqui (em Niquelândia, a partir da ideia de Danilo Figueiredo) as doações para mandarem para ele. Vamos ter uma família reunida, novamente. Vai ser vida nova, com fé em Deus”, afirmou a esposa Ana Ferreira França, com exclusividade, ao Excelência Notícias.

SÓ FALTAVA A CANETA – Figura popular em Niquelândia, Gravatinha ficou conhecido por sua caricata atuação como “guarda de trânsito” e entrou para o folclore da cidade do Norte do Estado [Fotos/Montagem: Joelson Oliveira – Colaboração: Juliano Campos]

 

 

Veja também

Botão Voltar ao topo