“Muquém não é a ‘beira do Araguaia’ religioso”, afirma bispo de Uruaçu na abertura da 276ª Romaria de Nossa Senhora da Abadia em Niquelândia
Antes da peregrinação com imagem da santa entre a noite desta segunda-feira/5 e a manhã desta terça-feira/6, Dom Giovani Barroca criticou “fiéis” que acampam no Muquém sem visitar a área interna do Santuário do Muquém durante os 10 dias do festejo religioso
Na presença de religiosos de várias paróquias de cidades do Norte do Estado, o bispo da Diocese de Uruaçu, Dom Giovani Carlos Caldas Barroca, celebrou a Missa Solene de Abertura da 276ª Romaria de Nossa Senhora da Abadia do Muquém no final da tarde desta segunda-feira/5, em Niquelândia.
Como ocorre anualmente, o estacionamento da Paróquia Nossa Senhora da Abadia, na região central do município, ficou completamente lotado de fiéis e de personalidades políticas locais, regionais e estaduais, sobretudo por 2024 tratar-se de um ano eleitoral para a escolha de novos prefeitos e vereadores em todo o País.
Dom Giovani foi nomeado bispo de Uruaçu pelo Vaticano em junho de 2020 e sua posse ocorreu três meses depois, em setembro daquele ano, também em Uruaçu.
É a terceira vez que o líder diocesano comanda a segunda maior romaria de todo o Estado de Goiás, superada apenas pela devoção ao Divino Pai Eterno em Trindade.Porém, quando o assunto é Romaria Mariana, a festa religiosa de Niquelândia é considerada a maior de toda a Região Centro-Oeste.
O festejo religioso de 276 anos está alicerçado, neste ano, sob o tema “O Cristão, como Maria, é um Peregrino da Esperança.
Tradicionalmente, um andor ornamentado com flores ao redor da imagem da santa é carregado todos os anos no ombro dos fiéis mais devotados por 45 quilômetros, até o Muquém.FÉ, SOLA DE SAPATO E BOLHAS – A longa jornada a pé teve início por volta das 18h10. Depois de uma breve parada na terceira etapa do Jardim Atlântico – em frente ao Centro Municipal de Serviços José Balbino – os fiéis iniciam efetivamente o trajeto pela Rodovia da Fé/GO-237, através do “Caminho dos Romeiros”, que margeia a pista.
A caminhada dos romeiros se estendeu por cerca de 12 horas, com a chegada ao Santuário do Muquém ocorrendo por volta das 5h30 da manha de hoje
Tanto a Prefeitura de Niquelândia, através da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania, por meio da primeira-dama Juliana Campos; como o Governo de Goiás, por meio da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), na pessoa da primeira-dama do Estado, Gracinha Caiado. montaram pontos de apoio com distribuição de lanches e assistência médica no trajeto.A estrutura da OVG começou a funcionar no sábado/3 e prestará atendimentos até às 12 horas do feriado municipal da quinta-feira/15.
Como já é praxe, a celebração para marcar a recepção da imagem peregrina fiu conduzida pelo padre Aldemir Franzin, reitor do Santuário do Muquém. O espaço comporta 22 mil pessoas sentadas num espaço de 7.200 metros quadrados.
A partir de hoje – até o próxima terça-feira, feriado do dia 15 de agosto, data em que se comemora do Dia da Padroeira – a Igreja Católica estima que 500 mil pessoas passem pelo Muquém.
Nesse dia, espera-se a presença do governador Ronaldo Caiado (UB) e do vice-governador Daniel Vilela (MDB), bem como de deputados federais, estaduais e prefeitos de várias cidades do Norte do Estado.É certo que, além de orações, tais lideranças terão conversas reservadas sobre os planos políticos da base caiadista e de outras correntes partidárias às eleições de outubro, antes e depois da celebração das 9 horas [que ficou conhecida como “Missa dos Políticos”] a ser conduzida pelo bispo de Uruaçu.
Nesse dia, o publico poderá superar tranquilamente os 40 mil fiéis, segundo a organização do evento, o que poderá causar congestionamentos na rodovia que dá acesso à igreja.
BISPO CRITICA “FIÉIS” QUE PASSAM LONGE DA IGREJA – Nos 10 dias de romaria, famílias de Niquelândia e de outras localidades praticamente “mudam-se” para o Muquém, levando consigo eletrodomésticos pesados (como fogão e geladeira) em carretinhas e reboques, permanecendo o tempo todo acampados nas áreas ao redor do Santuário.Porém, de acordo com o bispo de Uruaçu, o objetivo maior da romaria não pode ser somente o lazer e a confraternização entre as famílias em detrimento da fé e da devoção em Nossa Senhora da Abadia.
Ele fez uma analogia bastante proveitosa sobre o isolamento pouco ou nada católico que ocorre no Muquém por parte dos “romeiros” que visitam anualmente o local.
Na comparação feita pelo religioso, quando Jesus sai para um lugar deserto e silencioso, ele assim o faz para falar com Deus Pai. Certa vez, segundo o bispo de Uruaçu, a multidão ficou sabendo para onde Jesus se dirigiu, foi junto e ali permaneceu, tendo compaixão por seus seguidores e curando os que estavam doentes.
Dom Giovani Barroca destacou ainda, em sua homilia, que os discípulos, frisaram que o local era deserto, que o povo não tinha o que comer e que todos precisavam se despedir, para comerem em suas casas.
Citando o Evangelho de Matheus, o bispo destacou que Jesus ensinava as multidões, quando aconteceu a multiplicação dos pães. Os discípulos, na sequência, pediam para que as multidões fossem dispersas, para irem aos povoados comprar comida.
Porém, de acordo com o bispo de Uruaçu, Jesus preferiu que a multidão permanecesse com ele, ouvindo-o e sendo curada. Na sequência, Dom Giovani expôs o ponto chave de sua reflexo no início da romaria do deste ano em Niquelândia.
SERMÃO DO BISPO FOI DURO
“E eu já adianto: hoje (ontem) estamos indo para um deserto, para um local afastado, chamado Muquém. Pra que? Pra gente tirar férias? Acampar e tirar férias? Eu falo assim, mas não estou exagerando não. Já vi relatos de gente que não põe os pés no Santuário de jeito nenhum, pois ficam andando nas barracas, de cima para baixo, no comércio. O Muquém é uma espécie de ‘beira do (rio) Araguaia’ religioso?. Não! A gente vai até o Muquém para estarmos juntos com o Senhor, para ouvir o que o Senhor tem a nos dizer, com a nossa piedade e nossa vida. Claro que, evidentemente, vamos nos alegrar ao encontrar pessoas que não encontramos há muito tempo, pois é muito bom passear por ali. Mas não esqueçamos do principal, que é estar aos pés da Mãe, Maria Santíssima, para ouvir Jesus. O objetivo da Romaria do Muquém é ouvir o Senhor. Isso nos remete à Primeira Leitura, quando os profetas se desacostumaram a seguir o Senhor e foram alvos fáceis e vulneráveis do pai da mentira, porque somente Jesus nos dá a palavra da verdade, que nos cura e nos conforta”, afirmou o bispo de Uruaçu, durante o sermão aos fiéis.
O recinto, que é propriedade da Diocese de Uruaçu, precisa ser totalmente desocupado até o final da manhã da sexta-feira/16, quando padre Aldemir celebrará a Missa de Despedida dos romeiros de Nossa Senhora da Abadia do Muquém.