CULTURA DESPEDAÇADA – PC vai investigar se houve incêndio criminoso no Cine Teatro de Niquelândia: Bombeiros usaram 8 mil litros de água para combater fogo
Prefeito Eduardo Moreira havia feito reunião na sexta-feira/21 para discutir revitalização e funcionamento parcial do prédio, que estava abandonado há seis anos, apesar da cessão por comodato à Associação Amigos da Cultura (AAC) em 2018: paredes do imóvel ainda estão de pé, mas necessidade ou não de demolição do que sobrou do local ainda depende de avaliação técnica
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A Delegacia da Polícia Civil de Niquelândia vai instaurar, nesta segunda-feira/24, um inquérito policial para apurar as causas do incêndio que destruiu por completo as instalações do Cine Teatro Paulo Rocha, na região central da cidade na manhã deste domingo/23. Felizmente, ninguém ficou ferido.
Apesar da ação rápida do Corpo de Bombeiros da cidade, havia pouco a ser feito para evitar que poltronas, camarins, cochias, bilheteria, sistemas de iluminação, palco e revestimentos de carpete e de madeira (utilizados no piso e nas paredes), bem como demais instalações, fossem rapidamente consumidas pelo fogo.
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Como se sabe, a administração anterior do município cedeu o prédio, mediante comodato por 20 anos, para a Associação Amigos da Cultura (AAC) de Niquelândia em 28 de agosto de 2018, mediante projeto de lei aprovado pelo Poder Legislativo nesse sentido.
Todavia, o local estava praticamente abandonado e sem uso nesses seis anos, já que a opção do agora ex-prefeito Fernando Carneiro (PSD) foi pela locação de espaços particulares (buffets) para eventos da municipalidade.
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O incêndio ocorreu apenas dois dias após uma reunião realizada pela atual gestão da Prefeitura de Niquelândia, na última sexta-feira/21, para discutir a restauração do espaço e a necessidade, que já era urgente, de preservação do patrimônio cultural de Niquelândia.
COISA DO DEMÔNIO – “Parece que leram a nossa mente justamente sobre esse assunto, porque nós estávamos planejando colocar metade do Cine Teatro em funcionamento. Ontem (sábado/22) inclusive, havíamos conversado com a secretária Cláudia Nogueira (Cultura) que íamos iniciar as melhorias essa semana. Isso só pode ser ‘coisa do demônio’, pois não tem cabimento essa destruição do nosso patrimônio público, que já estava abandonado há muitos anos. Não sabemos, sequer, se vamos conseguir aproveitar as paredes”, afirmou o prefeito de Niquelândia, num vídeo amplamente divulgado nas redes sociais.
Na mesma gravação, o chefe do Executivo levantou, com veemência, a possibilidade do incêndio ter sido criminoso, ou seja, provocado por alguém que teve acesso às instalações do local. Vale lembrar que, há duas semanas, policiais militares prenderam uma pessoa que havia furtado parte da fiação elétrica, feita em cobre, material esse que tem valor comercial para revenda em ferros-velhos.
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Eduardo Moreira também disse que iria pedir, à Polícia Civil de Niquelândia, que buscasse imagens das câmeras de segurança das residências das imediações para tentar identificar a autoria do incêndio, cujo início teria ocorrido em horário incerto, durante a madrugada.
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“Agora nos resta a dúvida. Será que isso (o incêndio) foi por feito por maldade? Será que foi pago por alguém para destruir o patrimônio público? Queremos, enquanto administração municipal, que a pessoa ou as pessoas que provocaram esse incêndio sejam punidas”, reforçou o prefeito.
O QUE DISSE A POLÍCIA CIVIL – O delegado-titular do Genarc/GIH de Niquelândia, Cássio Arantes do Nascimento, estava de plantão neste domingo e fez o registro da ocorrência do incêndio no Cine Teatro Paulo Rocha como parte inicial das investigações que serão formalmente conduzidas pelo delegado Gerson José de Sousa, titular da Delegacia Municipal da PC, na região central.
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“Vamos apurar a existência – ou não – de alguém que teria provocado esse fogo; ou se, eventualmente, isso tenha ocorrido por um dano no circuito elétrico do imóvel. São hipóteses que não podem ser descartadas e que serão alvo do laudo da perícia. Eventualmente, se for identificada conduta humana ao início do fogo, vamos tentar identificar se foi um incêndio doloso (com intenção de cometer o crime) ou culposo (sem intenção)”, explicou a autoridade policial.
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Ainda de acordo com Cássio Arantes – caso fique comprovada a suspeita inicial do prefeito Eduardo Moreira de que a PC local está diante de um incêndio premeditado – as investigações devem ser direcionadas para outras três variantes distintas, de acordo com o Código Penal.
A PALAVRA DO DELEGADO – “Ou seja, se a intenção era causar prejuízo (à Prefeitura de Niquelândia) teríamos, ao menos em tese, um crime de dano ao patrimônio público em decorrência do incêndio praticado. Por outro, se o fogo tiver sido colocado de forma intencional – mas não necessariamente com o intuito de causar prejuízo – temos o crime de incêndio. E uma terceira hipótese – que não pode se descartar – seria a tese de incêndio culposo, de que algum indivíduo, fazendo uso de fogo, tenha provocado uma fagulha de fogo, que tenha se alastrado. Será uma investigação bastante complexa para indicar, inclusive, se houve ou não motivação política; ou por qualquer outro fator, para desencadear esse incêndio”, completou o delegado Cássio Arantes.
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A PC segue fazendo diligências em vários bairros de Niquelândia, com equipes de investigadores em campo, com o intuito de elucidar o crime ainda neste domingo, caso seja possível.
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Sobre o fato de usuários de drogas estarem frequentando o Cine Teatro Paulo Rocha para o consumo de entorpecentes, o delegado disse que a situação de abandono do local, sem vigilância, favorece a entrada indevida de desconhecidos, andarilhos e moradores de rua, o que também poderia resultar no incêndio.
“Essa é uma situação muito comum em imóveis desabitados e sem uso. Dois tipos de entorpecentes – a maconha e o crack – dependem realmente do fogo como acelerante para iniciar a chama, seja do cachimbo do crack ou da bituca da maconha. Inclusive a PM prendeu e nós fizemos a autuação em flagrante do autor do furto dos fios de cobre. Infelizmente, quando mais pessoas acabam sabendo que ali era um local abandonado, mais se aumenta o prejuízo, com o furto de pequenos objetos que existiam no Cine Teatro”, comentou a autoridade policial.
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“MUITO TRISTE” – Márcia Alves Vila Nova – que presidia a Associação Amigos da Cultura (AAC) na época da aprovação do projeto de lei que passou o Cine Teatro Paulo Rocha em 2018 para os cuidados da entidade – foi secretária de Cultura de Niquelândia até o encerramento da gestão passada, no dia 31 de dezembro de 2024.
Por volta das 19h40 deste domingo, ela disse que se dispõe a falar sobre o incêndio com o Excelência Notícias nesta segunda-feira/24, ocasião em que devera´comentar a situação de abandono do prédio durante o período em que foi titular da pasta. “Estou muito triste com esse incêndio”, afirmou, em mensagem de texto via WhatsApp.
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MAJOR ANA LÚCIA, COMANDANTE DOS BOMBEIROS DE NIQUELÂNDIA, CONVOCOU MILITARES EM FOLGA PARA AJUDAR NO COMBATE AO INCÊNDIO
Por volta das 12 horas deste domingo/23, a comandante da 6ª Companhia Independente Bombeiro Militar (6ª CIBM) de Niquelândia, major Ana Lúcia Cardoso, informou ao Portal Excelência Notícias que o trabalho de combate ao incêndio no Cine Teatro Paulo Rocha mobilizou 10 bombeiros da cidade do Norte do Estado.
Os bombeiros militares utilizaram cerca de 8 mil litros de água para debelar as chamas em ação que durou cerca de 1h30, com o uso de dois veículos apropriados para esse tipo de ocorrência.
“Por tratar-se de um incêndio de grandes proporções, precisávamos de reforço e conseguimos acionar cinco bombeiros que estavam de folga e vieram para o local, devidamente equipados com cilindros de oxigênio para adentarem no ambiente, onde tinha muita fumaça e gases tóxicos. A Prefeitura de Niquelândia também nos apoiou com caminhão-pipa, em contato com o prefeito (Eduardo Moreira), assim que fiquei sabendo do incêndio”, afirmou a major.
Ainda de acordo com a comandante dos Bombeiros de Niquelândia, o combate ao incêndio no Cine Teatro teve início pela entrada principal, onde ficam os portões metálicos que davam acesso às bilheterias, bomboniere e sanitários, com bastante cuidado, avançando na sequência para outras áreas do prédio.
“Depois que conseguimos resfriar um pouco o ambiente, começamos a abrir, de forma devagar, duas portas laterais. Depois, quando constatamos que não havia mais risco, abrimos uma terceira porta. Em casos de tipo, não podemos fazer essa abertura de forma abrupta, porque a entrada de oxigênio poderia ocasionar o aumento da intensidade das chamas. À medida que conseguimos trabalhar com mais condições de segurança, abrimos as portas restantes e conseguimos debelar integralmente o incêndio”, explicou Ana Lúcia.
Segundo a comandante, revestimentos das poltronas, do palco e das paredes, por serem de fácil combustão, contribuíram para que tudo fosse rapidamente destruído pelo fogo. “Infelizmente, quando chegamos, já não havia mais nada para ser preservado. Foi uma perda muito grande para a cultura de Niquelândia”, lamentou ela.
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Ela explicou que a operação fora realizada de forma devagar, para evitar um choque térmico que pudesse colapsar a estrutura do prédio, principalmente com um eventual desabamento do telhado. Comedida, a major Ana Lúcia reforçou que a resposta sobre as causas do incêndio será dado pela Polícia Técnico-Científica de Uruaçu, a exemplo do que foi dito pelo delegado da PC.
“Ontem (sábado), por exemplo, tivemos a ocorrência de muitos raios no final da tarde e alguma coisa na parte elétrica pode ter ocorrido; ou até mesmo um incêndio criminoso, porque uma das portas estava arrombada. Mas quando a perícia puder nos responder isso, de forma concreta, nos dará o feedback necessário para que possamos melhorar nossas ações futuramente, sobretudo na questão das vistorias, que é uma preocupação preventiva do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás”, comentou Ana Lúcia. [Euclides Oliveira]
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HISTÓRIA: CINE TEATRO PAULO ROCHA HAVIA SIDO INAUGURADO EM 2009 EM NIQUELÂNDIA
Projetado para acomodar 314 pessoas sentadas, com local específico para seis espectadores em cadeiras de rodas e piso com sinalização em braile (para facilitar a locomoção dos portadores de deficiência visual), o Centro de Convenções e Cultura Paulo Rocha (Cine Teatro) fora inaugurado com grande pompa e circunstância há quase 16 anos, em 3 de setembro de 2009, na administração do então prefeito Ronan Rosa Batista (PRB).
Os números do Cine Teatro de Niquelândia, antes do incêndio ocorrido neste domingo/25, sempre foram impressionantes: contava com palco de 13,3 metros de comprimento por 7,4 metros de largura (com 1,13 metro de altura em relação à platéia) e 5,5 metros de altura (profundidade), do chão até o teto.
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Fora isso, a obra física em si é também era gigantesca; e surpreendia mesmo quem visitasse a cidade pela primeira vez nos dias atuais: 736 metros quadrados de área construída, num terreno de 2,5 mil metros quadrados.
Para tanto, à época, o investimento foi superior a R$ 1 milhão. Desse valor, R$ 935 mil foram conseguidos através de uma emenda do então deputado federal Jovair Arantes, ora aliado político de Ronan Batista, junto ao Ministério do Turismo, em Brasília. [Euclides Oliveira, com informações do Jornal Diário do Norte]
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PREFEITURA DE NIQUELÂNDIA DIVULGOU NOTA OFICIAL SOBRE O INCÊNDIO