Niquelândia/Uruaçu

Meninas de 13 e 15 anos coagidas por homem preso em Uruaçu tinham fotos e vídeos vendidos em grupos de pornografia infantil no Telegram

Paulo Henrique José Pereira, de 33 anos, foi preso nesta segunda-feira/4 por policiais civis lotados na Deam de Uruaçu: Dômenico Rocha, delegado responsável pelo caso, mostrou-se surpreso com a ousadia do criminoso que chegou a criar perfis falsos nas redes sociais para ganhar a confiança das mães das vítimas de exploração sexual

Agentes de investigação da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Uruaçu, liderados pelo delegado Domênico Rocha, prenderam nesta segunda-feira/4 um homem de 33 anos que, de forma sistemática e contínua, exigia que duas adolescentes – uma de 13 e outra de 15 anos, moradoras da cidade do Norte do Estado – gravassem vídeos e enviassem fotos em que apareciam nuas ou seminuas para o acusado, que conheceram através das redes sociais Instagram e TikTok. Houve, ainda, uma terceira vítima, uma adolescente residente em Niquelândia.

De acordo com a autoridade policial, apurou-se que Paulo Henrique José Pereira – contra quem a Comarca de Uruaçu havia expedido um mandado de prisão preventiva – chegava a faturar cerca de R$ 3 mil por mês com a venda de packs (pacotes) por R$ 100, contendo 20 fotos e/ou vídeos dessas três jovens – e possivelmente, de outras meninas – para pedófilos que são membros de grupos de pornografia infantil existentes no Telegram ou escondidos na chamada Dark Web.

A Dark Web (que funciona dentro da Deep Web) é um ambiente arriscado e intencionalmente camuflado, repleto de ameaças à privacidade e segurança.

A Dark Web é comumente utilizada para fins ilícitos, como tráfico de drogas, exploração infantil, tortura e outros, cujo acesso é feito por navegadores específicos que garantam o anonimato.

Segundo a autoridade policial, as investigações para apurar a conduta libidinosa do indivíduo agora preso começaram há cerca de seis meses, quando duas famílias procuraram a Deam de Uruaçu relatando que haviam encontrado, inicialmente, conversas de cunho sexual nos celulares das adolescentes, que são amigas.

No depoimento que prestaram à Polícia Civil, as duas meninas contaram ao delegado que o indivíduo se utilizava de perfis falsos no processo de aproximação com as vítimas, exaltando a suposta sensualidade de ambas, conseguindo inclusive que as garotas gravassem vídeos em que ambas tocavam em suas partes íntimas, de forma bastante explícita.

O INÍCIO DAS AMEAÇAS – “A partir daí, o interlocutor (Paulo Henrique) mudava o tom da conversa com as duas jovens dizendo que ‘a partir de agora você vai mandar tudo o que eu pedir pois, caso você não faça isso, vou viralizar essas fotos nas redes sociais e todas as pessoas de sua escola, de sua família, vão saber disso’. Elas, então, passaram a se sentir coagidas e passaram a encaminhar novos materiais pornográficos para esse rapaz, de acordo com o que ele exigia”, explicou Domênico em entrevista ao Excelência Notícias na tarde desta terça-feira/5.

O rapaz, que é nascido em Niquelândia, transitava com frequência pela cidade de origem, por Uruaçu e também por Campinorte, onde a família possui fazendas próprias e/ou arrendadas. Segundo o delegado, apurou-se que ele trabalhava nos estabelecimentos comerciais da família mas, quando de sua prisão, ele não informou qual seria sua ocupação atual.

Durante as investigações, a Deam de Uruaçu descobriu que Paulo Henrique tinha um mandado de prisão em aberto pela prática de estupro de vulnerável, em Niquelândia, há cerca de um ano, contra uma outra adolescente.

Entretanto, de acordo com a autoridade policial, nem mesmo o fato de estar sendo procurado pelo crime anterior foi capaz de impedi-lo de praticar os crimes de exploração sexual contra menores de 18 anos; e de vender, ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente, respectivamente previstos nos artigos 218 do Código Penal e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

PERFIS FALSOS – “Às vezes, inclusive, ele se passava por mulheres dizendo às próprias vítimas, por meio de perfis falsos, que ‘olha, eu conheço o Paulo Henrique, ele é uma pessoa muito boa, inclusive eu já dormi com ele, porque já nos relacionamos, e se você quiser, podemos marcar de nós três se encontrarmos’, sempre para enaltecê-lo. Ou seja, o Paulo Henrique agia de forma de que essas duas meninas se entregassem para ele, tanto por mais de um perfil falso como por seu próprio perfil nas redes sociais”, explicou o delegado da Deam de Uruaçu.

Domênico Rocha ainda detalhou que, de tão ousado que o criminoso era em seu objetivo de arregimentar a confiança das duas adolescentes, Paulo Henrique criou um outro perfil falso, desta vez no Instagram, em que se identificava como sendo uma mulher de prenome “Beatriz” para conversar com as mães das meninas.

Num surpreendente contato com as mães das meninas, sempre de acordo com a autoridade policial, Paulo Henrique infantilizava o discurso passando-se por um adolescente, obviamente mais jovem que ele, chamando as duas mulheres de “tias”, dizendo que precisava falar sobre provas escolares com as meninas que ele já estava assediando para abastecer as redes de pornografia infantil, frequentadas por pedófilos.

No contato com as garotas, segundo o delegado, quando ambas pediam ele que a conversa fosse feita por chamada de vídeo, o criminoso preso dizia que não gostava de aparecer na frente das câmeras.

“E mesmo assim, de forma surpreendente, essas duas meninas continuaram mantendo contato com ele”, explicou o delegado.

“Em determinado momento, uma dessas meninas chegou a receber PIX enviados por esse indivíduo, em nome dele – sempre em valores pequenos, de R$ 20 a R$ 50 – para que continuassem produzindo essas imagens e vídeos. Ou seja, para nós (da PC), ficou caracterizada de forma contundente essa exploração sexual”, completou a autoridade policial.

“MILHARES DE IMAGENS” – Por ocasião da prisão de Paulo Henrique nesta segunda-feira em Uruaçu, a Deam determinou a apreensão formal do seu telefone que foi enviado para Goiânia, onde será analisado pela área de inteligência cibernética da PC. Por segurança, mesmo após o preso conceder verbalmente a quebra do seu sigilo telefônico e telemático, o delegado Domênico Rocha irá requerer a autorização formal desse procedimento ao Poder Judiciário de Uruaçu, por precaução.

“Inclusive, durante o interrogatório, ele nos disse que havia muitos vídeos e muitas fotografias com pornografia infantil no celular dele que, para nós, deve ser uma verdadeira caixa de pandora. Infelizmente, existe um mercado abjeto para consumo desse tipo de material envolvendo pornografia infantil. Depois que o juiz nos conceder o acesso formal ao telefone dele, tenho a certeza que irão surgir novas vítimas a partir da análise do conteúdo que o Paulo Henrique havia armazenado”, explicou o delegado da Deam de Uruaçu.

Justamente em função disso, a Polícia Civil de Uruaçu forneceu, aos meios de comunicação, a devida autorização para divulgação da imagem do preso nos termos da Lei 13.969/2019, Portaria Normativa 02/2020 DGPC e Portaria 547/2021 DGPC, reproduzida também nesta reportagem do Portal Excelência Notícias, tendo em vista o interesse público no sentido de identificar testemunhas e outras vítimas de crimes praticados por ele, uma vez que Paulo Henrique é suspeito de outros delitos dessa natureza.

“Para cada criança que foi explorada sexualmente por ele, com o comércio de fotos e vídeos das vítimas, há o cometimento de crimes distintos. Por isso, nós acreditamos que o Poder Judiciário dará uma resposta à altura da gravidade desses fatos que pesam contra o senhor Paulo Henrique”,  explicou o delegado.

ALERTA AOS PAIS – O titular da Deam de Uruaçu ainda disse, por ocasião da entrevista, que os pais e/ou responsáveis por adolescentes e crianças que utilizam smartphones e computadores domésticos devem estar sempre atento às páginas de internet que seus filhos e filhas visitam bem como observar, com frequência, quais tipos de imagens estão armazenados na galeria de fotos.

Se, por acaso, forem encontradas imagens de cunho pornográfico adulto e/ou infantil, os pais e responsáveis podem – e devem – o delegado Domênico orienta que sejam procuradas as delegacias Polícia Civil de Uruaçu, de Niquelândia e de todas as cidades da região Norte para que os casos sejam investigados, assim como fizeram as mães das duas adolescentes uruaçuenses.

O delegado Domênico Rocha, titular da Deam de Uruaçu: investigação do caso de exploração sexual demandou 6 meses de intenso trabalho da unidade especializada da PC da cidade do Norte do Estado [Foto: Divulgação]

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