ENTREVISTA – ANDRÉIA DINIZ – Presidente da Câmara Municipal de Niquelândia emociona-se ao falar da mãe após receber medalha na Assembleia Legislativa

Escrivã da Polícia Civil do Estado de Goiás há 25 anos, Andreia Ribeiro Diniz (PL) é também, no presente momento, vereadora em primeiro mandato e presidente da Câmara Municipal de Niquelândia. Divide seu tempo entre as atividades na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) em assistência às vítimas de violência doméstica; as inúmeras viagens inerentes à sua recente atuação política; e a rotina administrativa como comandante do Poder Legislativo, o que inclui conversas e reuniões com o prefeito Eduardo Moreira (Novo), com o secretariado municipal com os mais variados segmentos da sociedade. Por isso, por iniciativa do deputado estadual José Machado (PSDB), a primeira mulher a presidir o parlamento niquelandense em toda a história da cidade do Norte do Estado, foi agraciada na tarde da última terça-feira/18 com a Comenda Berenice Artiaga, uma referência ao pioneirismo da primeira mulher eleita deputada estadual em Goiás no distante 1951, falecida em 2012 aos 96 anos. No retorno à Niquelândia, Andreia Diniz concedeu essa entrevista exclusiva ao Excelência Notícias, na noite desta quinta-feira/20, em que relatou a emoção de receber a medalha e o certificado que representam a concessão formal da honraria. Acompanhe, com atenção:

Portal Excelência Notícias – O que a Comenda Berenice Artiaga representa para a trajetória de vida da senhora?

Andréia Ribeiro Diniz – Ela simboliza luta, representatividade e uma vitória sobre o machismo e as crenças limitantes que muitas vezes dizem que não vamos conseguir nada. Muitas mulheres sonham em receber uma honraria dessas e, infelizmente, nem todas terão essa oportunidade. Então, quando carrego essa medalha, sinto que estou dizendo a todas elas: “Estamos vencendo! Estamos abrindo caminhos!” Para mim, essa vitória não é apenas minha, mas de todas as mulheres que caminham ao meu lado. Além disso, essa homenagem representa o reconhecimento de cada passo que foi analisado ao longo da minha caminhada. Sei das dificuldades e das escolhas que fiz na minha trajetória profissional. A polícia, por exemplo, é um ambiente muito machista, e, mesmo assim, seguimos avançando. E com o apoio do doutor Cássio (Arantes do Nascimento, delegado titular do Genarc/GIH de Niquelândia), que eu chamei para essa missão, criamos a Delegacia da Mulher (DEAM, delegacia especializada também sob a responsabilidade do mesmo delegado). Esse foi um grande marco, pois Niquelândia não tinha uma DEAM. Quem vive aqui sabe disso. Quando questionado sobre esse tema, o próprio doutor Cássio reconheceu que essa conquista só foi possível porque eu dei o primeiro passo e corri atrás dessa delegacia ao lado dele.

Excelência Notícias – Como essa comenda impactou a percepção da senhora sobre a sua trajetória e o que ela significa no contexto do seu trabalho?

Andréia Diniz –  Eu me senti extremamente honrada. Porque essa luta não é fácil. Então, de fato, receber essa honraria foi um marco para mim. É como se eu tivesse aberto caminhos para as mulheres que virão e também para aquelas que já estiveram nessa caminhada. Eu fiquei muito emocionada. Chorei de alegria. Pode ser que para algumas pessoas essa comenda não tenha importância, mas para mim tem muito valor. Receber esse reconhecimento significa que cada passo que dei foi analisado e valorizado. Sei da dificuldade das escolhas que fiz ao longo da minha trajetória, principalmente em um campo como a polícia, que é muito machista.

Excelência Notícias: E sobre a presidência da Câmara Municipal de Niquelândia, como a primeira mulher nesse cargo, o que isso representa para a senhora?

Andréia Diniz – Ocupar a presidência da Câmara também representa uma grande vitória. Como primeira mulher a ocupar essa posição, sinto que estou quebrando paradigmas e abrindo caminhos para outras mulheres. Não é um caminho fácil, é um desafio, mas é possível ver que já há mulheres em posições de liderança, o que é muito significativo. Os caminhos que escolhi não foram fáceis, mas são trilhados por aqueles que realmente acreditam na mudança. Eu me vejo como uma pioneira, como se estivesse dizendo para outras mulheres: “Eu estou indo e consigo, então vocês também conseguem.” Quando o deputado estadual José Machado me convidou para entregar essa comenda, eu fiquei feliz. Isso foi um sinal de que minha caminhada está valendo a pena, que estou deixando um legado de luta, história, dor, alegria, sofrimento e resiliência.

Excelência Notícias – Após ser eleita vereadora, quais sentimentos a conquista do mandato despertou na senhora?

Andréia Diniz – Sinto que estou no caminho certo. A perseverança realmente vale a pena. Você tem que acreditar que vai conseguir, que vai vencer, que vai chegar onde quer. Então, é uma mistura de alegria, felicidade, emoção e realização. Mas eu nunca consigo sentir essa conquista sozinha. São muitas pessoas que caminham comigo. A soma das pessoas boas que tenho ao meu redor, a soma das mulheres com as quais convivo, todo apoio dentro de casa, especialmente do meu esposo (Flávio Lúcio Ribeiro de Sá);  no trabalho – inclusive o doutor Gerson (José de Sousa, delegado da Delegacia da PC em Niquelândia) também pediu votos para mim. Tudo isso é o que me impulsiona a chegar mais longe. Eu me senti extremamente realizada.

Excelência Notícias – Essa honraria também faz com que a senhora se torne um espelho para outras mulheres que ainda estão buscando abrir portas em suas áreas de atuação?

Andréia Diniz – Sim, sem dúvida. Eu percebo que muitas mulheres olham para a gente com admiração e gratidão, como se nos vissem como inspiração. Isso aumenta ainda mais minha responsabilidade. Eu carrego essa comenda pensando nelas, nas mulheres que ainda sonham em ser reconhecidas dessa forma. E, para mim, essa vitória é de todas nós. Não é apenas uma conquista individual, mas sim uma conquista coletiva. Quando eu recebo esse reconhecimento, sinto que estou representando todas as mulheres que estiveram e estão comigo nessa jornada. Lembro especialmente da minha mãe, que não pôde estar presente na cerimônia. Eu dediquei essa conquista a ela, porque se não fosse minha mãe (Delci Olívia Diniz Ribeiro), eu não seria quem sou. Ela sempre me apoiou, nunca me impediu de seguir meus sonhos, mesmo quando as escolhas não eram fáceis. Minha mãe, assim como meu pai (Ademar Ribeiro Sobrinho), sempre me incentivou a avançar. Na hora que estava com essa medalha no peito, eu lembrei demais dela pois, se não fosse ela, eu não estaria naquele lugar (na Alego, sendo homenageada). E o que mais me estimula é que os meus pais, embora fossem muito tradicionais, sempre me apoiaram em tudo (nesse momento da entrevista, Andreia emociona-se e chega à ir às lágrimas). Eles nunca me impediram de avançar. Lembrei demais também da minha filha, a Duda (Maria Eduarda Ribeiro de Oliveira, de 18 anos), que sempre me diz que sou a maior inspiração dela. Depois da cerimônia, ela me disse que estava muito feliz.

Excelência Notícias – Como foi a trajetória da senhora na Polícia Civil, considerando-se a predominância masculina desse setor?

Andréia Diniz – Quando entrei para a polícia, muitas pessoas achavam que eu estava louca. Diziam que aquilo era trabalho de homem. Isso foi há cerca de 25 anos, e o preconceito era muito forte. Mas meus pais, especialmente minha mãe, nunca me disseram para desistir ou escolher outro caminho. Eles sempre me apoiaram. A polícia, especialmente a parte da Polícia Civil, era quase que exclusivamente masculina. Mas eu fui avançando, ultrapassando barreiras. Depois, fui para a Delegacia da Mulher, e agora estou no Legislativo, onde faço parte de um grupo que, no início, era composto apenas por homens. Hoje, somos 11 homens e duas mulheres. E essa é uma grande vitória, porque a presença feminina nesse contexto tem um valor enorme.

Excelência Notícias – A senhora já se deparou com situações em que teve que superar preconceitos?

Andréia Diniz – Muitas vezes, sim. Eu lembro que, quando comecei a trabalhar na polícia, as pessoas diziam que eu estava escolhendo um caminho difícil, um caminho para os homens. Mas eu segui em frente. Eu fui para a Delegacia da Mulher, e agora estou também no Legislativo, onde vejo que a presença feminina é fundamental para quebrar paradigmas. Eu também me recordo de uma experiência que tive recentemente. Fui comprar uma pizza e o rapaz que me atendeu disse que havia feito uma redação inspirada na palestra que eu dei no Colégio Militar (Paulo Francisco da Silva, na região central de Niquelândia) no Dia Internacional da Mulher. Isso me mostrou o quanto as minhas ações podem inspirar outras pessoas.

Excelência Notícias – Qual é o legado que a senhora deseja deixar em Niquelândia, em função dessa história pessoal tão marcante?

Andréia Diniz – O meu legado é sobre superação, representatividade e a quebra de barreiras. O que quero deixar é uma mensagem de que, independentemente das dificuldades, das crenças limitantes ou dos obstáculos, é possível avançar e conquistar o que se deseja. E essa vitória não é minha, ela é de todas as mulheres que, como eu, enfrentam desafios diariamente.