Niquelândia

Homem que matou idoso que dormia na rua diz à Polícia Civil não se lembrar de ter praticado o crime em Niquelândia

Vítima de 72 anos foi assassinada por volta das 2h45 da madrugada desta terça-feira/12 quando dormia na porta de uma loja na região central da cidade: imagens de câmeras de segurança de um hotel nas proximidades do fato foram decisivas para que a PM prendesse rapidamente o autor do crime, de 43 anos, que estava completamente embriagado

Paulo Severino dos Santos – de 43 anos, que matou com cinco facadas um morador de rua que dormia na porta de uma loja de utilidades domésticas na madrugada desta quarta-feira/12, em Niquelândia – disse em depoimento à Polícia Civil que não se lembrava de ter cometido o crime que chocou a população da cidade do Norte do Estado, nas primeiras horas de hoje.

A identidade de Paulo foi revelada ao público através do Instagram oficial da 11ª Companhia Independente da Polícia Militar (11ª CIPM) de Niquelândia, detalhando que o homicídio aconteceu na Rua Sete de Setembro, nas proximidades da principal avenida da cidade, por volta das 2h45 de hoje.

O Corpo de Bombeiros de Niquelândia foi até o local, mas a vítima – Francisco Sales, de 72 anos – já estava sem vida. O idoso era conhecido por pernoitar nas áreas cobertas da agência da Caixa Econômica Federal,  do imóvel que abrigará a nova agência do Banco do Brasil da cidade; e do comércio onde teve sua vida ceifada.

O morador de rua sempre estava rodeado por diversos cães vira-latas, em meio à muita sujeira e restos de comida, que também atraía pombos aos locais onde Francisco costumava dormir.

Uma testemunha relatou, à PM, que o crime foi cometido por outro homem – posteriormente identificado como sendo Paulo Severino – que teria desferido os golpes contra a vítima e fugido logo em seguida.

Câmeras de segurança de um hotel próximo ajudaram na identificação do então suspeito, que tentou resistir à prisão ao ser localizado numa casa da Rua Paracatu, nas proximidades da agência dos Correios de Niquelândia.

Ele teria confessado o homicídio logo em seguida, aos PMs e também aos plantonistas da Delegacia da Polícia Civil de Niquelândia, localizada na mesma rua dos fatos.

O QUE DISSE O DELEGADO – Cássio Arantes do Nascimento, delegado-titular do Grupo de Investigações de Homicídios (GIH) da Polícia Civil de Niquelândia, informou ao Excelência Notícias que o autor do crime estava completamente embriagado ao ser preso e que, por isso, preferiu esperar que Paulo Severino recobrasse a consciência para dar sua versão oficial sobre os fatos.

Segundo o delegado, a testemunha relatou ter visto o momento em que o autor do crime chega à porta da loja onde Francisco estava deitado, tendo permanecido alguns minutos agachado, próximo ao idoso – como se estivesse conversando com a vítima.

Porém, em dado momento – conforme o relato da testemunha para a autoridade policial – o assassino desferiu vários golpes de faca contra Francisco, dispensando a faca após conseguir seu intento, fugindo em seguida.

O delegado Cássio Arantes explicou que a Polícia Militar, em uma ação rápida e eficiente, analisou as imagens do circuito interno de segurança do hotel e conversou com uma testemunha presencial.

A partir dessas informações, os PMs foram até a residência do suspeito, que, segundo o delegado, é alcoólatra, mas não está em situação de rua.

Durante a abordagem preliminar, Paulo Severino teria confessado o crime aos militares. No entanto, ao chegar à delegacia, os plantonistas notaram uma inconsistência: as imagens do CFTV mostravam o suspeito vestindo uma roupa diferente da que usava no momento em que foi apresentado pela PM.

“Nossa equipe do GIH, que já havia assumido a ocorrência, foi até a casa dele (Paulo) e encontraram a camiseta e a bermuda que ele teria usado na hora do crime, ambas molhadas e com manchas de sangue, fato esse que, para nós (da PC) ratificou a autoria do crime”, detalhou a autoridade policial.

Cássio Arantes informou que Paulo Severino foi inicialmente autuado em flagrante por homicídio qualificado pela utilização de recurso que impossibilitou a defesa de Francisco, já que o idoso estava deitado e virado de costas, sem possibilidade de esboçar qualquer reação.

“No interrogatório, acompanhado por um advogado, ele (o autor) alegou estar arrependido, mas disse não se lembrar do que fez, de ter golpeado, de ter matado a vítima, embora tenha afirmado que realmente estava no local. Ele disse que teria ingerido ‘um pouco’ de bebida alcóolica, mas que não sabia se era dele ou da vítima. De fato, na cena do crime, tinha aqueles ‘carotinhos’ (frascos pequenos) de cachaça, que não se lembrava de mais nada, além do fato de ter sido preso na casa dele”, explicou o delegado.

Segundo o delegado, como Paulo Severino disse também não recordar de ter cometido o assassinato, ele também não apresentou nenhuma justificativa para o crime – nem mesmo em prol dele, caso se tratasse de uma situação de legítima defesa – o que não seria plausível, detalhou Cássio, justamente pelo fato de Francisco não ter esboçado qualquer reação.

“Em dado momento, ele (Paulo) pega a faca pela lâmina e faz um gesto como se estivesse entregando a arma do crime para que a vítima (Francisco) a pegasse pelo cabo. De repente, o idoso se deita e ele (Paulo) permanece sentado e o observa, golpeando-o várias vezes”, detalhou Cássio.

A autoridade policial também foi comedida ao comentar a possibilidade de que a morte de Francisco tenha ocorrido simplesmente por uma repulsa de Paulo Severino ao fato do idoso ser um morador de rua, a exemplo do que já ocorre em grandes cidades do país, quando pessoas inescrupulosas ateiam fogo em indigentes que dormem nas vias públicas.

“Dificilmente nós teremos uma versão formal e oficial – que é o que vale, juridicamente falando – sobre uma motivação clara para esse crime ocorrido em Niquelândia. Agora o que levou ele (Paulo) a fazer isso é bem pouco provável que seja esclarecido num primeiro momento pois, como ele diz não se lembrar de ter golpeado a vítima, obviamente também não se lembra do motivo – ou não quis dizer esse motivo, no momento de seu interrogatório aqui conosco”, relatou o delegado.

Paulo Severino possuía alguns antecedentes criminais e chegou a ser preso em 2010 por roubo. Recentemente, tinha em seu desfavor medidas protetivas requeridas à Justiça por familiares, que temiam sua agressividade, relacionada ao alcoolismo. No depoimento, o autor do crime negou que faça uso de substâncias entorpecentes.

IDOSO NÃO SERÁ ENTERRADO COMO INDIGENTE – A vítima, segundo a autoridade policial, embora estivesse em situação de rua, havia recebido atendimento da Secretaria Municipal de Assistência Social durante a gestão passada.

Francisco chegou a ser abrigado no Lar dos Idosos Almir Araújo Dias, no Jardim Águas Claras, mas não adaptou-se e voltou a perambular pela região central de Niquelândia.

Em 2024, um papiloscopista da PC esteve na cidade e coletou as digitais do idoso para a emissão de sua carteira de identidade, de tal forma que ele não será enterrado como indigente.

O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) e, embora conste no RG que Francisco era nascido em Monte Alegre/RN, nenhum familiar fora localizado na cidade potiguar e nem mesmo em Niquelândia, onde ocorreu o crime.

Por isso –  atendendo solicitação da Polícia Técnico Científica de Uruaçu –  o sepultamento do idoso assassinado será realizado no cemitério de Niquelândia, numa cova que será devidamente identificada, caso alguém reclame posteriormente sobre o paradeiro do cadáver.

As despesas serão custeadas pela Assistência Social da prefeitura por meio do convênio recentemente firmado pela municipalidade com uma funerária local, para amparar famílias enlutadas que estejam em situação de vulnerabilidade econômica. Foi o primeiro atendimento do tipo realizado pela atual gestão do município, este ano.

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