Niquelândia

Projeto que tramita no Legislativo propõe gestão do Cine Teatro por entidade cultural

Associação Amigos da Cultura de Niquelândia (AACN) assumiria local em comodato, por 20 anos. Entidade já busca recursos à reforma completa, orçada em R$ 195 mil. Aberto em 2009, local sofre com ação do tempo e dos vândalos

Nove anos após ser inaugurado com muita pompa e circunstância – em julho de 2009, pelo então prefeito Ronan Rosa Batista com R$ 950 mil garantidos pelo governo federal – o Centro de Convenções e Turismo (Cine Teatro) Paulo Rocha luta para não sair de cena, em Niquelândia.

Degradado pela ação do tempo e pela falta de manutenção adequada – o ar condicionado central nunca funcionou adequadamente, por exemplo – o espaço hoje subutilizado pelo município do Norte do Estado poderá ressurgir através da provável assinatura de um termo de comodato que está sendo discutido pelo Poder Executivo com a Associação dos Amigos da Cultura de Niquelândia (AACN).

A presidente da entidade, Márcia Alves Vila Nova da Silva, recebeu a reportagem do Portal Excelência Notícias na tarde desta quarta-feira (6) para detalhar o projeto. Segundo ela, dada as dificuldades orçamentárias do município, a administração do prefeito interino Léo Ferreira (PSB) – através do secretário municipal de Agricultura, Cultura e Turismo, Manoel Alves Gomes Júnior – a questionou se a AACN teria interesse em administrar o Cine Teatro por um prazo inicial de 20 anos, prorrogáveis por igual período.

O comodato, em linhas gerais, é uma cessão provisória de espaço público para uma entidade que reúna condições técnicas e documentais à sua manutenção, com algum suporte da municipalidade. O projeto do Poder Executivo com a cessão do Cine Teatro para a AACN estava na pauta da sessão ordinária da Câmara Municipal de Niquelândia na noite da terça-feira (5).

Porém, segundo Márcia, o documento foi retirado da ordem do dia  justamente para adequações no texto e relacionar as obrigações que ficarão a cargo da prefeitura, mesmo após a concessão por duas décadas. Ela, no entanto, não dispunha de uma cópia do texto inicial para fornecer ao Portal Excelência Notícias.

A presidente da AACN deseja que a prefeitura oferte funcionários e um guarda-noturno, bem como a limpeza e conservação das áreas externas ao redor do antigo Largo da Cruz. A entidade responderá pela parte estrutural do prédio para garantir qualidade técnica às apresentações artísticas e culturas; e conforto ao público que usufruir do Cine Teatro, que possui 736 metros de área construída.

O palco – para se ter uma ideia do gigantismo do local – possui 3,3 metros de comprimento por 7,4 metros de largura (com 1,13 metro de altura em relação à platéia) e 5,5 metros de altura (profundidade) do chão até o teto.

Com o interesse de Márcia Alves em dar o suporte para tal empreitada, a AACN fez um levantamento dos custos para todas as adequações/reformas necessárias através da engenheira civil Roberta Diel e do arquiteto Waldemar de Souza Ribeiro, chegando a um orçamento de R$ 195.361,35.

À esquerda da foto, é possível notar painel turístico desgastado com a ação do tempo: reforma sairá do papel caso Legislativo aprove comodato do Executivo com a AACN (Foto: Euclides Oliveira)

Ela trabalha com a expectativa de que a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA/Votorantim Metais); a Anglo American; e o frigorífico Lakes Fish autorizem a destinação de verbas para o projeto, tão logo o Poder Legislativo aprove o Projeto de Lei sobre o comodato do Cine Teatro.

Porém, isso só deverá ocorrer após a efetiva posse do prefeito eleito Fernando Carneiro (PSD) – vencedor do pleito suplementar no domingo (3) – que ainda não tem data marcada para ocorrer. Márcia disse que já teve uma reunião preliminar com o vereador e vice-prefeito eleito, Saullo Adorno (PTB), para organizar um encontro da AACN com o futuro gestor.

Outra possibilidade da entidade desonerar o município, segundo Márcia, será obter apoio Ministério da Cultura (com apoio do deputado federal Francisco Júnior/PSD) poderá garantir recursos para a AACN/Cine Teatro por meio de emendas ao Orçamento da União.

Isso, segundo Márcia, seria também facilitado para a AACN pelo fato da entidade estar hoje devidamente enquadrada como uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que dispõe de todas as certidões negativas necessárias ao recebimento de recursos públicos.

Cine Teatro, em Niquelândia: pintura desgastada, chicletes nos pisos e poltronas e ar condicionado que nunca funcionou corretamente: AACN planeja reinauguração até o final deste ano  (Foto: Euclides Oliveira)

O QUE SERÁ MELHORADO–  com o montante de R$ 195 mil, o Cine Teatro terá pintura externa nova; recuperação dos painéis na fachada que ilustram os principais pontos turísticos e atrações culturais de Niquelândia (Cachoeira do Pai Chico, Praça da Bíblia, Santuário de Nossa Senhora da Abadia do Muquém), Povoado de Tupiraçaba/Traíras, Lago Azul; Lago Serra da Mesa e as Congadas de Santa Efigênia), hoje muito desgastados pela ação do tempo.

Internamente, caso o comodato seja firmado com autorização do Legislativo, a AACN também planeja a compra de 15 novos assentos para o auditório (que possui 335 lugares) e reforma naqueles onde for possível esse tipo de ajuste; remoção especializada de centenas de restos de gomas de mascar (chicletes) deixados pela população embaixo das cadeiras e no carpete do auditório; e até mesmo no palco principal (construído em piso de sinteco envernizado).

O projeto de reforma do Cine Teatro também prevê readequação das instalações hidráulicas dos banheiros (do público e atrás do palco, para os artistas); renovação completa da sonorização e iluminação do palco (para os efeitos de som e luz que forem requisitados pelos produtores de apresentações); iluminação da plateia; cortinas; acomodações dos camarins, cochias; e bilheteria.

Porém, nem é preciso olhar tanta coisa assim para ver o estado de iminente abandono do local: as portas envidraçadas da entrada principal – onde deveriam haver maçanetas e fechaduras com chaves – estão fechadas apenas com correntes e cadeados, dentre outros problemas. Para quem não sabe, segundo Márcia, antes mesmo de Ronan terminar a obra em 2009, a AACN iniciou as fundações do que seria o espaço, em parceria com a Anglo American.

A PALAVRA DA PRESIDENTE DA AACN – “Numa reunião com os demais membros da nossa associação, decidimos que era viável nós pleitearmos esse comodato com o município para administrar o Cine Teatro, pelo fato de estarmos trabalhando com a Cultura da cidade há muitos anos, recebendo apoio da Anglo American à manutenção da Orquestra Jovem Sinfonia do Cerrado. Hoje, em nossa cidade, não temos um grupo de dança, por exemplo. Queremos não apenas reformar o Cine Teatro, mas desenvolver um plano de ocupação artística melhor para aquele espaço, com um calendário regular de apresentações de, no mínimo, todas as quintas-feiras. O ar-condicionado por exemplo, dependendo do evento, não pode ficar ligado porque faz muito barulho. E, se fica desligado, as pessoas sofrem com o calor. Sobre os chicletes que terão de ser retirados, vejo isso como uma falta de educação muito grande das pessoas, porque nunca faltou lixeiras no Cine Teatro. Com relação às obras, já estamos com o levantamento de custos prontos e uma empresa previamente acertada para os serviços, aguardando apenas as modificações que terão de ser feitas no projeto, para sua aprovação pelo Legislativo; e a documentação da prefeitura posterior a esse trâmite, nos concedendo o direito de uso do Cine Teatro. Se tudo der certo, queremos reinaugurar o espaço até o final desse ano ainda com uma grande apresentação, embora sabendo que as coisas travam um pouco em função do ano eleitoral. Com relação ao Doutor Fernando, o prefeito eleito, o Saullo nos disse que conversou com ele e que não haverá nenhuma objeção da prefeitura, na futura gestão de ambos, para que nossa associação se encarregue de tocar esse projeto”, comentou Márcia Alves.

Márcia Alves Vila Nova, presidente da Associação Amigos da Cultura de Niquelândia (AACN), mostra o projeto que prevê ampla reforma no Cine Teatro Paulo Rocha (Foto: Euclides Oliveira)

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