Goiânia/Niquelândia

Operação Despedida: Segurança Pública dá último adeus à policial civil Gilma Custódio, em Niquelândia

Agente de investigação tinha 27 anos de carreira na Polícia Civil e morreu aos 50 anos na manhã do sábado/30 em Goiânia, vítima da Covid-19, após 13 dias internada na UTI: notícia da perda chocou colegas e amigos da cidade do Norte do Estado

O corpo da policial civil Gilma Custódio de Freitas, de 50 anos, foi enterrado às 21h40 do sábado (30) no Cemitério Municipal São José, em Niquelândia, sob aplausos dos colegas das Forças de Segurança Pública da cidade do Norte do Estado.

Agente de investigação da Polícia Civil com 27 anos de carreira profissional, ela morreu por volta das 8 horas do mesmo dia na Unidade de Terapia de Intensiva (UTI) de um hospital em Goiânia, em decorrência de complicações de saúde provocadas pela Covid-19.

Com um quadro moderado de obesidade – um dos fatores de risco para a doença – a policial civil foi diagnosticada pela segunda vez com o novo coronavírus em meados de janeiro.

No último dia 17, um exame de tomografia computadorizada – feito ainda em Niquelândia – apontava que Gilma estava com 55% de comprometimento nos pulmões, de tal maneira que a equipe médica que a assistia no Hospital Municipal Santa Efigênia optou por sua transferência para a capital.

Cláudia Mendonça, esposa de Gilma e o delegado Gerson de Sousa diante do caixão, minutos antes do sepultamento da policial em Niquelândia [Foto: Excelência Notícias]
A morte de Gilma – que sofreu uma parada cardíaca, decorridos 13 dias de sua internação – deixou a cidade em estado choque: apesar de sua convalescência na UTI, a policial civil não chegou a ser intubada.

Ela respirava por meio de Ventilação Não Invasiva (VNI) em máscara de oxigênio; estava sendo submetida à fisioterapia respiratória; e os prognósticos diários apontavam discreta melhora do quadro clínico de Gilma, apesar das ressalvas que a saúde dela ainda inspirava cuidados.

“OPERAÇÃO DESPEDIDA” – O carro de uma empresa funerária de Niquelândia, com o corpo da policial civil, chegou pontualmente no horário previsto – às 21 horas – na principal entrada da cidade.

Esposa de Gilma, a professora Claúdia Mendonça chegou no mesmo veículo, após ter viajado até Goiânia para tratar dos trâmites burocráticos à liberação do corpo.

No estacionamento de um posto de combustíveis, policiais civis de Niquelândia e de Uruaçu (onde Gilma nasceu), bem como a Polícia Militar (PM) e o Corpo de Bombeiros, organizaram o cortejo fúnebre pelas ruas do município.

As viaturas, com suas ruidosas sirenes e sinais luminosos, deram o tom do tamanho da comoção que se abateu sobre os representantes das forças de Segurança Pública de Niquelândia.

Nesse local, bastante emocionada, a escrivã Andréia Diniz entregou um uniforme da Polícia Civil à viúva de Gilma, pedindo que Cláudia cobrisse o caixão com a vestimenta oficial.

Policiais civis e amigos da agente de investigação Gilma Custódio tiveram de manter distanciamento do caixão com o corpo da policial durante a rápida despedida no cemitério, por força da Covid-19 [Foto: Excelência Notícias]
O delegado-titular da 18ª Delegacia Regional da Polícia Civil (18ª DRP) em Uruaçu, Natalício Cardoso da Silva, também esteve em Niquelândia para os funerais da colega de profissão, sua amiga de longa data, com quem trabalhou em diversas oportunidades ao longo da carreira de ambos.

DELEGADO DE NIQUELÂNDIA FAZ HOMENAGEM – Dada a necessidade de uma despedida rápida – sem velório, por conta dos protocolos sanitários vigentes para mortes em função da Covid-19 – o delegado-titular de Niquelândia, Gerson José de Sousa, fez um rápido pronunciamento para exaltar seu sentimento pessoal com o falecimento de Gilma Custódio “por causa desse vírus maldito”, nas palavras dele.

Com carinho, Gerson disse que ele e Gilma ambos se comunicavam pelo olhar, sem precisar trocar uma palavra sequer. O delegado destacou também que a agente de investigação teve de enfrentar preconceitos por ser mulher, negra e homossexual por ter ingressado numa categoria predominantemente masculina e machista.

Wanildo de Freitas Carvalho – ex-vereador por dois mandatos em Uruaçu e tio de Gilma – esteve no enterro em Niquelândia.

Ele endossou as palavras do delegado niquelandense sobre os desafios e percalços que a sobrinha passou por sua orientação sexual.

Policiais civis de Niquelândia e de Uruaçu no Cemitério Municipal São José durante a rápida despedida da policial Gilma Custódio, que morreu vítima da Covid-19 em Goiânia [Foto: Excelência Notícias]
A PERDA DE UMA PROTETORA – “A Gilma era minha amiga da vida inteira. Eu a conheci, ainda bem jovem, em Uruaçu. Por conta do esporte, ela se entrosou conosco. Nós tínhamos um time de futebol na delegacia, em que ela participava. Depois, através de concurso, a Gilma ingressou na Polícia Civil; e se tornou esse ‘monstro sagrado’ que conhecíamos até o dia de hoje. Infelizmente, nos perdemos uma protetora, uma cuidadora de todos nós. A Gilma era a provedora da nossa delegacia, a principal referência da unidade. Não nos faltava nada porque ela corria atrás de tudo. Daqui pra frente vamos ter de encontrar forças para entrar novamente na delegacia e continuar o trabalho que ela fazia tão bem”, afirmou Gerson de Sousa.

A autoridade policial reafirmou o profissionalismo e comprometimento institucional de Gilma para com a Polícia Civil do Estado de Goiás, desde o tempo em que a delegacia onde ambos trabalhavam funcionava sem qualquer estrutura há duas décadas, em salas improvisadas nas dependências do presídio da cidade, no Bairro Santa Efigênia.

“Na época que ela começou, nos fazíamos esse trabalho meio que na marra mesmo. Mas a Gilma fazia tudo pela Polícia Civil com muita alegria e com muito prazer, acima de tudo. Para nós, fica a lembrança de uma policial muito séria, mas também de uma pessoa que vivia com muita felicidade e que não abria mão, por nada, da honestidade e da integridade que sempre a caracterizaram”,  afirmou a autoridade policial, em entrevista ao Portal Excelência Notícias, logo após o sepultamento.

Em 2015, por todo esse legado como policial civil na cidade, Gilma Custodio foi agraciada pela Câmara Municipal com o título de Cidadã Niquelandense.

“Acho que ainda vou demorar a acreditar que ela se foi. Por isso, quero ficar com as boas memórias que tenho dela”, afirmou o ex- delegado de Niquelândia, Cássio Arantes do Nascimento, que trabalhou com Gilma durante cinco anos na cidade antes de ser transferido para a capital, em mensagem via WhatsApp.

UM GRITO CONTRA O PRECONCEITO – Gilma [à esq] vivia uma relação homoafetiva com a educadora Claudia [à dir.]: casamento de ambos exemplificava a superação de preconceitos em Niquelândia, que ambas enfrentaram de frente nos últimos anos [Foto: Reprodução/Facebook]

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