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“Eu não acreditava nessa doença”, afirma Tonho Bigode, recuperado da Covid-19 após 9 dias de UTI em Goiânia

Comerciante de 51 anos ficou 13 dias hospitalizado na capital depois de confirmado o diagnóstico ainda em Niquelândia, no Hospital Santa Marta: depois de ter perdido o paladar, exames comprovaram perda de 60% de sua função pulmonar

Após longos 13 dias internado num hospital particular em Goiânia para recuperar-se de um quadro delicado de infecção pelo novo coronavírus, o comerciante Antonio Francisco Pires – o popular Tonho Bigode, de 51 anos – regressou no último final de semana ao convívio de seus familiares, em Niquelândia.

No início da tarde desta terça-feira (7), Tonho Bigode aceitou conversar por telefone com o Portal Excelência Notícias para contar como foram seus nove dias de internação num leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital da capital.

Em Goiânia, o comerciante contou foi submetido a uma tomografia computadorizada onde descobriu-se que 60% de sua função pulmonar estava comprometida.

Porém, Tonho Bigode não precisou ser entubado, ao contrário de boatos maldosos que circularam em Niquelândia dando conta disso. Depois da UTI, foram mais quatro dias se recuperando num leito de enfermaria, até receber alta médica.

“Eu não acreditava nessa doença. Para mim, isso [a Covid-19] era apenas ‘conversa dos outros’, tanto é que eu levava meu dia a dia normalmente; e continuava não acreditando, seguindo minha vida naturalmente”, afirmou o comerciante.

Para quem praticou atividades físicas durante boa parte da vida, segundo Tonho Bigode, ficar doente era algo impensável já que sempre gozou de boa saúde.

Ainda sem imaginar que seria diagnosticado com Covid-19 o comerciante relembrou que, no dia 11 de junho, sentiu-se incomodado com uma certa ‘friagem’ nas costas.

Inicialmente, Tonho Bigode se automedicou com analgésicos comprados em farmácia, além de remédios caseiros, acreditando que estava com dengue.

“Até um certo ponto, esses remédios faziam efeito. Porém, depois, já não faziam mais. E fui lutando, lutando com isso [com o mal-estar] até o dia 20 de junho, um sábado, quando minha esposa [a educadora Vânia de Oliveira Pires] me pediu que eu não fosse trabalhar”, recordou o comerciante.

Proprietário de uma distribuidora de bebidas –  alem da venda de produtos hortifrutigranjeiros  – Tonho Bigode disse que seu filho iria, no seu lugar, trabalhar na Feira Coberta de Niquelândia para que ele atendesse o pedido da esposa para que descansasse.

A PERDA DO PALADAR – “Mas, de madrugada, eu me senti melhor e resolvi trabalhar no domingo, dia 21, até a hora do almoço. Comprei um frango-assado e, nessa hora, percebi que não estava sentindo o gosto da comida. Minha mulher percebeu isso também, mas eu fiquei calado. Na segunda-feira, dia 22, ela resolveu me levar para o hospital”, detalhou Tonho Bigode.

No Hospital Santa Marta – da rede particular, onde foi atendido pelo médico e diretor-clínico Gustavo dos Santos Arruda – o comerciante niquelandense passou por uma série de exames de sangue; e foi submetido a um raio-x dos pulmões.

No dia seguinte, na terça-feira/23, Tonho Bigode foi novamente atendido pelo diretor-clínico do hospital.

De acordo com o comerciante, Gustavo Arruda olhou seus exames de sangue, dizendo que não havia encontrado nenhuma anormalidade.

Porém, Tonho Bigode reparou que, com o resultado do exame de seu pulmão em mãos, o médico foi discreto e permaneceu em silêncio.

NO OXIGÊNIO, AINDA EM NIQUELÂNDIA – “Foi aí que minha esposa disse ao doutor Gustavo que queria que fosse feito o exame [de Covid-19] em mim. Quando o resultado saiu, me levaram para o oxigênio; me aplicaram remédios; e me colocaram no soro. Foi quando eu liguei para a minha esposa, para saber o que estava acontecendo. Ela me falou que eu estava com a Covid; que o meu caso era sério; e que eu seria levado para Goiânia”, contou Tonho Bigode, com exclusividade para o Excelência Notícias.

Na sequência, Vânia contou ao marido que a direção do Hospital Santa Marta já estava providenciando sua transferência para internação numa UTI em Goiânia.

Gustavo Arruda o acompanhou até a capital – na quarta-feira, dia 24 – num trecho de 300 quilômetros, na ambulância UTI comprada recentemente pela instituição médica. Naquela madrugada, Tonho Bigode disse que apresentou um quadro de tosse, mas que não sentiu febre ou dores de cabeça.

ALUCINAÇÕES – “Graças a Deus e também pela rapidez do doutor Gustavo, do Ruberval [Macedo], e de toda a equipe, eles conseguiram me tirar daqui [de Niquelândia] muito rápido. Se não fosse o doutor Gustavo, eu não estaria agora dando essa entrevista para você. Só mesmo na UTI, em Goiânia, é que tive uma forte diarreia. Fui muito bem tratado e bem medicado em Goiânia mas, na hora de dormir, minha esposa me disse que eu tive algumas alucinações, uns sonhos esquisitos, coisas muito estranhas, que nunca aconteceram na minha vida”, detalhou Tonho Bigode.

O comerciante disse que, após o susto, passou a valorizar ainda mais a companhia da esposa; de seus filhos; de seus netos; e demais familiares; bem como da importância dos amigos mais próximos que se mostravam muito preocupados com sua situação de saúde durante o período em que esteve hospitalizado. “É outra vida, hoje”, disse ele, que emagreceu 20 quilos por causa da doença.

A RETOMADA – Ainda tomando certos cuidados antes de retomar a vida normal – como andar curtas distâncias nos arredores de sua casa – Tonho Bigode segue descansando e só pretende voltar a trabalhar no seu comércio na próxima segunda-feira, dia 13. “Estou ótimo, pronto para voltar”, afirmou.

Perguntado sobre seu atual pensamento acerca das medidas de isolamento e distanciamento social para o combate ao Covid-19 – algo que está sendo bastante desrespeitado em Niquelândia – o comerciante fez um apelo para que a população cuide de sua própria prevenção, em vez de atribuir culpa ao prefeito Fernando Carneiro (PSD) pelo crescimento no número de casos do novo coronavírus na cidade.

PEDIDO À COMUNIDADE – “Eu peço, encarecidamente, que não joguem essa responsabilidade em cima do prefeito, em cima dos decretos do município. O prefeito está fazendo seu papel, de nos avisar [dos riscos de contaminação pela Covid-19]. Peço também, aos meus amigos, que observem que a responsabilidade [de buscar a prevenção] é apenas nossa. O compromisso com a nossa vida quem deve ter somos nós mesmos. Dê valor na sua vida. Pare, pense, não saia para a rua, não vá pra a beira do Lago [Serra da Mesa]. Fui abençoado por Deus. Por isso, eu não quero que nenhum niquelandense passe por tudo o que eu passei”, comentou Tonho Bigode.

VIDA NOVA – Tonho Bigode faz o sinal de positivo em sua casa, em Niquelândia: comerciante passou momentos difíceis após o diagnóstico de Covid-19 [Foto/Colaboração: Vânia Pires]

 

 

 

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