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Neta de Antonio Sergipano detalha últimos momentos ao lado do avô, segunda morte confirmada por Covid-19 em Niquelândia

Apesar da dor da perda, Nathalia Dias de Oliveira aceitou conversar com exclusividade com Portal Excelência Notícias na tarde desta terça-feira/30: comerciante de 84 anos morreu na sexta-feira/26, apenas dez horas após dar entrada no Hospital Municipal Santa Efigênia, com quadro inicial de labirintite

Boletim Epidemiológico divulgado às 15h40 desta terça-feira (30) pela Secretaria Municipal de Saúde de Niquelândia atesta que a cidade do Norte do Estado agora registra 61 casos confirmados de Covid-19; e a segunda morte em decorrência da doença.

Como se sabe, o dono da tradicional “Casa Sergipana” na Praça do Tucunaré Azul, o comerciante Antônio Joaquim Dias, de 84 anos – o popular Antônio Sergipano – faleceu às 2h30 da madrugada da sexta-feira (26) no Hospital Municipal Santa Efigênia.

O diagnóstico da morte de Antonio Sergipano por Covid-19 foi confirmado pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), ligado à Secretaria Estadual de Saúde, em Goiânia.

Em respeito ao sigilo obrigatório sobre a identidade do paciente, a titular da pasta, Cida Gomes; e o diretor-clínico do hospital municipal, o médico Gledson Maia; apenas informaram à imprensa local a ocorrência de um óbito de um idoso de aproximadamente 80 anos; que esta seria a primeira morte suspeita por Covid-19 em Niquelândia; e que a amostra para comprovação ou não do diagnóstico seria enviada ao Lacen.

Por outras fontes – extraoficiais, vale ressaltar – a informação de que a suposta vítima do novo coronavírus era a pessoa de Antonio Sergipano logo foi divulgada em grupos de WhatsApp em toda a cidade, o que desagradou bastante seus familiares, já abalados com a dor da inesperada perda.

“Infelizmente, muita gente está fazendo fofoca e divulgando informações erradas, dizendo que o meu avô tinha contraído a doença da minha mãe [Ana da Conceição Dias Teixeira, filha de Antônio Sergipano] sendo que ela está na zona rural faz 15 dias, assim que ela descobriu que estava com o coronavírus. Só que depois que a minha mãe saiu da cidade e foi para a fazenda ela não teve mais contato com o meu avô”, afirmou Nathalia Dias de Oliveira, de 27 anos, neta do comerciante, em entrevista exclusiva ao Portal Excelência Notícias na tarde de hoje.

O QUE ELE SENTIU, NAQUELE DIA – Nathália disse que o avô, apesar da idade avançada, tinha boa saúde de um modo geral. A neta detalhou que Antonio Sergipano tomava medicamentos de uso contínuo para o controle da pressão arterial; para problemas na próstata; e também para amenizar crises de labirintite.

E foi justamente por ele ter apresentado sintomas dessa doença – tontura e vertigens são os mais comuns – que Nathália e sua irmã Daniela decidiram chamar a unidade do Samu/192 para que o avô fosse encaminhado ao pronto-socorro do Hospital Santa Efigênia por volta das 16 horas da quinta-feira, dia 25.

“Mais cedo, ele não quis [ir ao hospital] de jeito nenhum. Ele me disse que iria se levantar mais tarde. Aí eu e minha irmã conseguimos convencê-lo para que fosse ao hospital. Meu avô tomou um soro na sala de observação; e percebemos que ele deu uma melhorada. O médico deu mais um soro para ele; e nos disse que ele seria encaminhado para a enfermaria, para ser internado”, relatou Nathália.

Ainda de acordo com a neta de Antonio Sergipano, o avô seguiu sendo mantido no soro e foi submetido a diversos exames de sangue; e de urina; dentre outros. Nathália disse ter informado, à equipe em atendimento naquele dia no hospital, os nomes dos medicamentos que seu avô fazia uso regular, tendo recebido a informação de que os mesmos poderiam continuar sendo normalmente ministrados a ele.

A SUSPEITA DE COVID-19 – “Por volta de meia-noite, eles [os funcionários do hospital] levaram meu avô para fazer uma tomografia. Logo depois, a médica me chamou e me perguntou se meu avô fumava. Eu respondi que ele não fumava e também não bebia; e ela me informou que o pulmão dele estaria inchado – eu não me lembro exatamente a palavra agora – e que meu avô estava com pneumonia. A médica me perguntou se ele havia apresentado sintomas de gripe; e eu respondi que meu avô me pediu para fazer um chá, que ele tomou com Resfrenol [medicamento destinado ao alívio da congestão nasal, coriza, febre, dor de cabeça e dores musculares presentes nos estados gripais, segundo o laboratório-fabricante]. Foi nessa hora que a médica me disse que os sintomas do meu avô, naquele momento, eram de Covid-19”, detalhou Nathália, na entrevista ao Excelência Notícias.

Na sequência, sempre de acordo com a neta de Antonio Sergipano, seu avô foi levado para a área de isolamento do Hospital Santa Efigênia, voltada para a internação de pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Porém, relatou Nathália, o quadro clínico de seu avô teria se agravado de forma bastante abrupta.

“Quando ele chegou no isolamento, ele já chegou morto. Eles [a equipe do hospital] tentaram reanimá-lo com três doses de adrenalina. Mas, mesmo assim, ele não reagiu e morreu por volta das 2h30 daquela madrugada, do dia 26. Ele saiu do hospital num saco preto dentro do caixão diretamente para ser enterrado porque não era possível abrir [para o velório]. Não pudemos fazer nada [para homenageá-lo]”, relembrou a neta do comerciante.

No decorrer da entrevista pelo Whats App ao Excelência Notícias – em mensagens de texto, porém – Nathália disse não aceitar que a morte do avô tenha sido oficializada como decorrência da Covid-19, pelo fato dela própria não ter sido diagnosticada com a doença, apesar de sua convivência diária com Antônio Sergipano.

“Morávamos na mesma casa, fazíamos almoço e janta todo dia, nosso convívio era 24 horas. Era eu quem dava os medicamentos [de uso contínuo] para ele. Cuidei o tempo todo dele no hospital, algumas vezes sem máscara. Fiz o teste rápido [para Covid-19] ontem e o meu resultado deu negativo. Não tenho nenhum sintoma”, comentou a neta de Antonio Sergipano.

Ao Excelência Notícias, Nathália disse que a família de Antônio Sergipano não pretende questionar o Lacen e a Secretaria Estadual de Saúde sobre o resultado do exame, apesar de sua desconfiança sobre a verdadeira causa da morte do seu avô.

UM HOMEM CARIDOSO – “Isso [o falecimento] já nos causou muita dor. Qualquer coisa que fizermos agora não irá trazê-lo de volta. Quem o conheceu sabia o quanto o meu avô era um homem de bom coração; caridoso; humilde; e religioso. Estamos sentindo muita falta dele, porque ele era o melhor pai, avô e bisavô que poderia existir. Mas sabemos que ele está num lugar melhor; e é isso que está nos conformando”, encerrou a neta de Antônio Sergipano.

Gledson Maia, o diretor-clínico do hospital, confirmou hoje que o idoso foi atendido naquele dia com um quadro inicial de mal-estar, que evoluiu para insuficiência respiratória seguida de parada cardíaca. “Essa evolução negativa ocorreu realmente de maneira muito rápida, infelizmente”, lamentou o médico.

Natural de Uauá, cidade do Norte da Bahia, Antonio Sergipano ganhou esse apelido em Niquelândia porque sua terra natal fica próxima da divisa com o vizinho Estado de Sergipe.

Antônio Sergipano, em foto recente, usando máscara de proteção durante a pandemia, defronte sua “Casa Sergipana”: morte por Covid-19 aos 84 anos, em Niquelândia [Foto: Arquivo de Família]

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