5º Feirão da Solidariedade: voluntariado da Paróquia São Francisco de Assis mostra força e garra no Jardim Atlântico
Padre Volney Alves de Oliveira comandou evento da Igreja Católica com apoio de 350 pessoas em 45 tendas: antes de amanhecer, populares formavam longas filas e disputavam todos os tipos de produtos, a preços baixíssimos. Meta do pároco é garantir sistema de energia solar ao templo
Colossal. Impressionante. Magnânimo. Adjetivos não nos faltariam para definir a superação de desafios e a força do voluntariado da comunidade católica do Jardim Atlântico entre a manhã e a tarde deste domingo (29) em Niquelândia, ocasião em que a Paróquia São Francisco de Assis realizou o 5º Feirão da Solidariedade.
Voltada à arrecadação de recursos às obras sociais da Igreja Católica num dos bairros mais populosos da cidade do Norte do Estado – bem como à manutenção, modernização e ampliação do templo propriamente dito – o ‘feirão’ mobilizou cerca de 350 pessoas numa grandiosa estrutura de 45 tendas, montadas na praça em frente à paróquia.
O dia ainda não havia amanhecido quando o Portal Excelência Notícias chegou à Avenida Gaudêncio Maria Fernandes. Eram 6h10 da manhã e longas filas de populares já estavam formadas, por gente que esperava ansiosamente para comprar peças de carne (limitadas a três quilos por pessoa) com preços abaixo dos normalmente cobrados nos açougues de Niquelândia.
Entre tantas coisas baratas (ou baratíssimas, como poder comer um pastel por 1 real e até mesmo comprar uma porta de aço envidraçada usada, por 30 reais) era difícil não querer levar de tudo um pouco para casa.
O ‘combo’ de refrigerantes pet de 2 litros – contou Lidiane Fiúza, que trabalhava na tenda – acabou rapidamente: afinal de contas, três garrafas por apenas R$ 10 (quando uma única garrafa de um famoso refrigerante de Cola custa quase R$ 7) é algo inimaginável nos dias atuais.Para os menos abonados e com grana curta – solteiros ou até mesmo recém-casados – eram irresistíveis as ofertas tentadoras de televisores antigos, guarda-roupas, cômodas e outros tipos de móveis.
Havia, também, filas imensas para comprar frango-assado a 15 reais (o preço normal é R$ 25, durante o ano); sacolões de verduras e frutas (com mais de 15 itens diferentes); roupas usadas em excelente estado de conservação; variados tipos de artesanatos; roupas para adultos e crianças; e plantas diversas, com mudas prontinhas para florescer.Esse ano, conforme apurou o Excelência Notícias, a doação de vacas para o ‘Açougue da Solidariedade’ caiu um pouco, fechando em 10 animais (ante aos 12 e até mesmo 15 de edições anteriores). Porém, a compensação veio através da doação de 900 quilos de peixes, arrecadados pelos voluntários.
COMO TUDO COMEÇOU – Há sete anos, o padre Volney Alves de Oliveira – atendendo pedido do então bispo da Diocese de Uruaçu, dom Messias dos Reis Silveira – deixou suas funções religiosas na Paróquia Nossa Senhora Aparecida em Montividiu do Norte e assumiu o comando da Paróquia São Francisco de Assis, em Niquelândia.À época, a igreja do Jardim Atlântico perdia seu pastor, já que o então padre Wemerson de Araújo Fonseca renunciou ao sacerdócio para dedicar-se à vida pública e seguir carreira política, inicialmente em Niquelândia e posteriormente em Uruaçu.
Diante dos desafios assumidos, padre Volney contou ao Portal Excelência Notícias que a ideia do ‘Feirão da Solidariedade’ em 2014 (totalmente regulamentado por um amplo e rigoroso estatuto) surgiu em Niquelândia a partir da observação de uma iniciativa pioneira da Igreja Católica em Santa Terezinha de Goiás.
Naquela cidade do Vale do São Patrício, segundo o religioso, realizou-se o ‘Feirão das Famílias’, multiplicando-se nos municípios subordinados à Diocese de Uruaçu. Em algumas paróquias, detalhou o padre, conseguiu-se estabelecer um grande vínculo com os paroquianos ao evento, tal como em Niquelândia.
CORAÇÕES SOLIDÁRIOS – “O objetivo geral, desse nosso ‘feirão’, é ajudar mesmo a comunidade, com preços a partir de 1 real – que não se encontra em nenhum local da cidade – para que as pessoas possam comprar e levar às suas casas, fazendo com o que o coração do ser humano seja mais solidário. Nossas equipes correram atrás dos recursos durante seis meses para que, no dia de hoje, pudéssemos realizar essa festa tão bonita. Tem pessoas que passam a noite na fila para comprar mais barato”, comentou padre Volney.Em janeiro de cada ano, relatou o religioso, o árduo trabalho recomeça na Paróquia São Francisco de Assis para o evento, sempre realizado no último domingo do mês de julho.
Em reuniões com os coordenadores das equipes de voluntários, o pároco da igreja do Jardim Atlântico realiza um grande trabalho de preparação prévia para que todos compreendam o real sentido do feirão, arregimentando pessoas que possam doar seu tempo para trabalhar na arrecadação das doações propriamente ditas.
‘FEIRÃO’ NÃO PODE DAR PREJUÍZO – “Todo feirão tem um estatuto; e é interessante que esse documento não seja desobedecido. Do contrário, teríamos um evento bagunçado. Nosso estatuto foi adequado à nossa realidade. Quando as pessoas me perguntam sobre a renda do ‘feirão’, a primeira coisa que eu respondo é que esse evento não pode dar prejuízo à paróquia, embora seja pensado para ajudar as pessoas. Eu, enquanto pároco, não posso pagar por uma estrutura dessas, que é muito cara, algo por volta de R$ 20 mil. Mas, graças a Deus, desde que iniciamos esse evento, o ‘feirão’ nunca deu prejuízo porque Deus está sempre à frente. Porém, não posso deixar de agradecer a população de Niquelândia pelo apoio a esse evento que, a cada ano, se torna um sucesso cada vez maior”, comentou o padre.
AS OBRAS FEITAS E OS PROJETOS FUTUROS – O religioso explicou que o excedente angariado, além dos R$ 20 mil, foi utilizado nas quatro edições anteriores do ‘feirão’ na reforma da igreja, que ganhou duas vistosas torres (antes inexistentes) com grande modificação/ampliação de sua entrada principal, bem como a iluminação interna e externa (que ainda não está completa, segundo ele).
O hall de entrada da igreja, vale salientar, é uma atração à parte: visto pelo alto, em imagens registradas com um drone, percebe uma cruz em forma de um “T” (de Tau, última letra do alfabeto hebraico) que remete à cruz de São Francisco.
Futuramente, o templo também receberá pintura especial com grafiato. Também se prevê a instalação de uma escultura representativa com os Doze Apóstolos (Pedro, Tiago; João; André, Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; um segundo Tiago; Tadeu; Simão, o Zelote; e Judas Iscariotes). Segundo a tradição da Igreja Católica, eles são mensageiros judeus enviados por Jesus para pregar o Evangelho.
Goteiras, no período chuvoso, também incomodam os católicos que frequentam a Paróquia São Francisco de Assis, de modo que a reforma completa do telhado também está incluída no rol de metas a serem alcançadas pelo religioso.
“Aquilo que eu puder comprar e gastar aqui em Niquelândia, – com esse dinheiro arrecadado pelo nosso ‘feirão – farei questão de deixar circulando no próprio município, como forma de movimentar e aquecer a economia local”, afirmou o padre.
Uma obra também em andamento, com auxílio da Paróquia Sâo Francisco de Assis, é a construção da Capela Divino Pai Eterno no Conjunto Setha (terceira etapa do Jardim Atlântico) atualmente na fase de alicerce.
ENERGIA SOLAR É OUTRA META – Ainda segundo o pároco, o custo de energia pago pela Paróquia São Francisco de Assis à concessionária Enel tem se mostrado bastante alto e proibitivo ao orçamento arrecadado mensalmente junto aos fiéis dizimistas, bem como durante o ofertório das eucaristias.
Por isso, padre Volney afirmou que o principal objetivo, neste momento, é arrecadar entre R$ 40 mil R$ 45 mil à instalação de um sistema de placas de energia fotovoltaicas à captação da luz solar.
“Com o tanto que gastamos atualmente em energia, uma vez que instalarmos esse sistema, poderemos reverter nossos investimentos em obras mais importantes à estrutura da nossa paróquia”, exemplificou o padre.
Apesar do investimento inicial elevado – em dois orçamentos já em mãos do pároco – empresas do setor estimam que esse método de captação de energia garante que o valor possa ser recuperado em até cinco anos, pela drástica e imediata redução no consumo em KW/H medido mensalmente pela Enel.
VULNERABILIDADE SOCIAL PREOCUPA – Como nem tudo são maravilhas no Jardim Atlântico, padre Volney relatou que, há dois meses, encabeçou um abaixo-assinado junto à comunidade do bairro para que o Poder Executivo, na pessoa do prefeito Fernando Carneiro (PSD), faça gestões ao comando da Polícia Militar (PM) para que o bairro tenha um posto fixo da corporação, para melhorar a segurança dos moradores. “Nós precisamos muito desse reforço”, disse o religioso.
Outra solicitação ao prefeito de Niquelândia, feita por padre Volney, diz respeito à necessidade de fechamento do acesso à gruta de pedras existente na Praça Lázaro Marques de Queiroz, defronte à paróquia, edificada na gestão do então prefeito Ronan Rosa Batista.“Esse local, por muitas vezes, está sendo utilizado para consumo de drogas. E, na época das chuvas, torna-se um criatório do mosquito transmissor da dengue”, sentenciou o padre.
POVO DO ‘JARDIM’ É ACOLHEDOR – De acordo com o religioso, o êxito mais uma vez alcançado na realização do 5º Feirão da Solidariedade se deve muito ao fato do Jardim Atlântico ser, na visão dele, uma comunidade diferenciada tal como fosse residente em outro município, embora as três etapas do populoso bairro estejam dentro dos limites territoriais de Niquelândia.
Padre Volney afirmou que o povo do Jardim Atlântico é muito acolhedor, logo precavendo-se em dizer que os habitantes da região central possuem características semelhantes.Porém, o pároco entende que os fiéis que frequentam a Paróquia São Francisco de Assis são pessoas que precisam de um padre mais próximo; que acompanhe mais de perto o que se passa entre os moradores; que visite as casas, para tomar um cafezinho; e até mesmo para perguntar se necessitam de algo em especial.
“O povo católico do Jardim Atlântico me deu grande liberdade para constituir laços de família com eles”, afirmou o padre.
ÓTICA NOVA VISÃO É PARCEIRA DO ‘FEIRÃO’ – Um dos apoiadores do evento – o empresário Sérgio Cardoso da Silva – levou ao ‘Feirão da Solidariedade’ a estrutura móvel da Ótica Nova Visão, ofertando testes de visão gratuitos e venda de óculos a preços mais em conta do que no decorrer do ano.
De acordo com o padre Volney, Sérgio é um grande parceiro para que a população mais carente do Jardim Atlântico e imediações possa minimizar, por ocasião do ‘feirão’, problemas relacionados à deficiência para enxergar.